domingo, 26 de fevereiro de 2017

TRILOGIA SOBRE O TRABALHO - PARTE 1: CRIANÇAS ESPIRITUAIS

(por Alessandra Mayhé)


Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. (Hebreus 5:12)

Hoje, nós vamos começar uma conversa que irá durar três semanas. Ao longo das próximas publicações, vamos conversar mais sobre algumas questões relacionadas ao trabalho. Os temas a serem abordados serão:
  1. Crianças Espirituais: Como encaramos nossa responsabilidade?
  2. O Trabalhador da Última Hora: Quando devo começar a trabalhar?
  3. Os 40 anos de Moisés no deserto: Quanto tempo devo esperar até obter a minha recompensa?

Sendo assim, para iniciarmos a conversa, vamos tentar entender melhor qual o nosso nível de compreensão a respeito da importância do trabalho em nossas vidas.

Nossos companheiros, amigos e guias espirituais estão sempre nos alertando quanto à necessidade do trabalho ativo no bem. Ouvimos as lições evangélicas, sentimos nossos corações reconfortados, pensamos na nossa responsabilidade quanto à mudança de nossas atitudes, sentimos até uma vontade de começar a dar os primeiros passos.... mas, após uma análise mais profunda, nos acomodamos novamente em nosso afazeres diários, assumimos como “difícil” ou “quase impossível” uma mudança de atitude em nossas vidas, e nos permitimos continuar engatinhando, ao invés de empreendermos esforços para aprender a caminhar sozinhos.


Na introdução do livro “Missionários da Luz”, de André Luís, com psicografia de Chico Xavier, Emmanuel utiliza uma analogia bastante interessante para nos mostrar o quanto ainda somos infantis espiritualmente. Ele nos compara às crianças que se encantam ao ouvir as histórias sobre fadas, gênios, palácios ocultos, lembrando-nos como elas ouvem atentas as narrativas contadas, “estampando alegria e interesse no semblante feliz”. No entanto, se o narrador muda suas palavras, focando sua narrativa nas realidades educativas, as mentes infantis das crianças, retraem-se, contrafeitas e cansadas, sem compreenderem “a promessa da vida futura com os seus trabalhos e responsabilidades”.

Quantas vezes, ao assistirmos uma palestra, ao lermos um livro, um artigo de uma revista espírita ou ao participarmos de uma reunião mediúnica e presenciarmos os fenômenos, nós não nos extasiamos com as palavras ditas deixando nossas mentes infantis vibrarem com o encantamento causado pelo “brilho da purpurina”, sem, no entanto, permitirmos que as luzes também brilhem em nosso interior?

Quantas vezes, ao sermos lembrados de nossos deveres e cobrados pelas nossas consciências, logo racionalizamos as dificuldades e voltamos ao estado de inércia provocado pela desculpa daquele que se permite estagnar ao ver que a caminhada exige um esforço que ele ainda não está disposto a empreender?

Uma vez, ouvi uma pessoa dizer: “preciso muito voltar às minhas atividades espirituais, mas não quero fazer isso neste momento”. Quantas vezes nós, também, mesmo sabendo que precisamos estar atentos ao nosso crescimento espiritual, preferimos adiar essas conquistas por não estarmos “dispostos” a abrir mão das conveniências e dos comodismos naquele momento? Quantos vícios perpetuamos em nossas vidas, mesmo sabendo da necessidade de extirpá-los, porque o prazer de mantê-los nos parece muito maior do que o esforço para refreá-los?

O trabalho nada mais é do que a ação necessária para que saiamos do estado em que nos encontramos e sigamos rumo a um estado de maior plenitude espiritual.

Fugimos das nossas responsabilidades por alimentarmos a ideia de que a mudança interior é sempre mais difícil do que a manutenção do status quo. Em algum momento da história, alguém nos vendeu a imagem de que o sofrimento é companheiro inseparável da reforma íntima, e nos esquecemos de que, se assim fosse, Jesus não teria associado a verdadeira felicidade ao mundo daqueles que se reformularam intimamente.

Emmanuel complementa a introdução do livro citado dizendo que “os corações ainda tenros amam o sonho, aguardam heroísmo fácil, estimam o menor esforço, não entendem, de pronto, o labor divino da perfeição eterna e, por isso, afastam-se do ensinamento real, admirados, espantadiços”.

Ainda nos permitimos esperar por vitórias fáceis, queremos soluções que não exijam esforço, queremos tudo para agora, nunca para depois. Ainda somos crianças espirituais que desejam somente o momento da brincadeira e rechaçam o momento das responsabilidades.

Pois bem! Neste momento, temos duas opções: começar agora a trabalhar no amadurecimento de nossas consciências ou nos mantermos na condição de crianças espirituais, com a alegação de que tudo deve ser feito aos poucos, mas sem nem sequer darmos o primeiro passo. Que tal refletirmos sobre o assunto?

Na próxima semana, vamos conversar um pouco sobre o trabalhador da última hora. Será que nos baseamos nesta história para postergar nossas responsabilidades espirituais?


Até lá!

Um comentário:

  1. Reflexões oportunas!Que possamos pensar nas nossas desculpas e nas oportunidades que surgem ao nosso redor.

    Sem cobranças em excesso mas sem comodismo.

    Parabéns ao blog pelo trabalho!

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