Esta feliz denominação, com
referência a Chico Xavier, não me pertence. A primeira vez que a ouvi foi da
boca deste companheiro, que me serve de instrumento às garatujas
despretensiosas que insisto em escrever de uma vida para outra.
Numa de suas visitas à minha casa,
ele me deixou profundamente emocionado, ao me contar: – “Dr. Inácio, o Chico,
quando psicografa, tira os sapatos e fica descalço, sob a mesa...”
Há pouco, nas paragens da Vida
Maior, numa tertúlia com amigos comuns, dentre os quais destaco Rômulo Joviano,
Zeca Machado, Clóvis Tavares, José Gonçalves Pereira, Spartaco Ghilardi e
tantos outros, mencionei a conversa em que o médium amigo me contara sobre o
hábito de Chico psicografar descalço. – “É verdade, Doutor – explicou Rômulo,
com a anuência dos demais. – Desde Pedro Leopoldo, quer fosse às reuniões do
Centro Espírita “Luiz Gonzaga” ou mesmo no porão de minha casa, na
Fazenda-Modelo, Chico tirava os sapatos para receber os espíritos... Preocupada
com a friagem do solo – a Fazenda ficava numa vasta região de brejo –, por
insistência de minha esposa, ele passou, então, a aceitar um pedaço de papelão
que o protegesse – depois, um pouco mais tarde, mandei confeccionar uma espécie
de estrado de madeira para ele apoiar os pés. Não deixava de ser engraçado e
pitoresco, pois, não raro, quando a psicografia terminava, todo o mundo saía,
procurando os sapatos de Chico, que iam parar na outra ponta da mesa ou nos
fundos do quintal, carregados por algum cachorro...”
- “Em Uberaba também era assim –
emendou Gonçalves. – E fora de Uberaba também! Certa vez, participamos com ele
de uma reunião comemorativa na “Casa Transitória”. Observei que Chico, enquanto
escrevia, discretamente tirou os sapatos e ficou esfregando um pé no outro, feito
uma criança a brincar...”
- “Quanta simplicidade e beleza
espiritual!” – exclamou Clóvis, de olhos lacrimejantes.
- “E quantos exemplos para todos
nós, médiuns de ontem e de hoje!” – afirmou Spartaco.
- “Principalmente para os médiuns de
hoje – não perdi ocasião de enfatizar. – Com uma ou outra exceção, a turma hoje
está psicografando de botinhas...”
O pessoal sorriu e eu continuei:
- “Nada, é óbvio, contra as
preferências de alguém... Para mim, eles podem até psicografar de sandálias,
dessas que não têm cheiro e não soltam a tinta... A coisa não está no pé – está
na cabeça! E mais: está no coração!”
Enquanto a turma arregalava os
olhos, ante o meu jeito espontâneo de ser, continuei:
- “O problema grave que vejo nisso
tudo é que o pessoal fica nessa competição de quem usa o salto mais alto... Que
contraste! Chico descalço, e eles de salto tipo “Luís XV”... Chico rente ao
chão e eles nas alturas!...”
Foi quando Zeca, que ainda não tinha
falado, rematou com a nossa plena aprovação:
- “Doutor, ao rés do chão, Chico
estava com a cabeça nas estrelas... O que está faltando no Movimento Espírita
da Terra é médium de pés descalços! Digo mais: de espíritas em geral, despidos
de toda vaidade! O salto, de fato, anda muito desproporcional...”
- “É por isso, Zeca – concluí –, que
eu sempre ando de serrote nas mãos...”
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba - MG, 1º de dezembro de 2009
Kkkkkk muito bom. E o serrote tem que ser utilizado mais vezes.Um dia chegaremos lá.
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