Toda Europa estava fervendo com a nova moda das “mesas girantes”. A teoria mais aceita para os fenômenos era a dos estudiosos em magnetismo que acreditavam na ação de um fluido magnético, elétrico ou de qualquer outro tipo como agente dos movimentos feitos pelas mesas.
Rivail não era diferente e acreditava também que o fluido magnético (por ser uma espécie de eletricidade), podia perfeitamente atuar sobre corpos inertes e fazer com que eles se movessem.
Foi em fins do ano de 1854 que Rivail ouviu o que lhe soou absurdo à época: as mesas girantes “falavam”! Foi um amigo seu de muito tempo, o Sr. Fortier, quem lhe trouxe a notícia de que as mesas respondiam quando interrogadas e que eram capazes, inclusive, de ditar composições literárias e musicais.
A resposta de Rivail não poderia ser outra:
“Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto da carochinha”¹.
Rivail acreditava na existência do efeito material, porém a ideia de uma mesa falante não entrava em sua cabeça de homem de ciência, positivista² e cético por natureza.
Um ano após o ocorrido, em 1855, Rivail é convidado para assistir a uma sessão em casa da Mme. Plainemaison. Foi então que, pela primeira vez, assistiu ao fenômeno das mesas girantes. Presenciou também efeitos produzidos com pancadas que davam respostas inteligentes e ensaios de escrita mediúnica em ardósia com o auxílio de uma “cesta de bico”³. Não havia margem para dúvidas, o que ele via era real!
“Entrevi naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo.”¹
Por muitas outras vezes pôde Rivail observar o fenômeno em casa de Mme. Plainemaison, até conhecer o Sr. Baudin que o convidou a frequentar as reuniões em sua casa, onde encontrou o ambiente ideal para prosseguir em seus estudos.
Uma das filhas do dono da casa, Srta. Caroline Baudin é descrita por Rivail como “uma médium inteiramente passiva, que nunca tinha a menor consciência do que escrevia, podendo rir e conversar livremente, o que ela fazia com naturalidade, enquanto a sua mão psicografava”. A médium teria usado durante muito tempo a cesta de bico, passando posteriormente à escrita direta.
“Compreendi antes de tudo a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspecção e não levianamente; ser positivista e não idealista², para não me deixar iludir”¹.
Ao perceber, através da manifestação de diversas personalidades, a confirmação da existência humana após a morte, Rivail começa a levar para as sessões perguntas sobre diversos problemas para serem respondidas pelos espíritos comunicantes.
“Mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a ideia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda a gente”¹.
¹
Todas as citações foram retiradas do livro Obras Póstumas, segunda parte, cap. “A minha primeira iniciação no
espiritismo”
²
Positivista: O positivismo é uma
corrente filosófica, política e sociológica surgida no século XIX, portanto na
mesma época de Kardec. Os positivistas acreditavam que o conhecimento científico
deveria ser o único reconhecido como verdadeiro. Era, portanto, o oposto do idealismo que somente compreendia a
realidade a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva.
³
Cesta de bico: “(...) consiste em
adaptar-se à cesta uma haste inclinada, de madeira, prolongando-se dez a quinze centímetros para
o lado de fora (...). Por um buraco aberto na extremidade dessa haste, ou bico,
passa-se um lápis bastante comprido para que sua ponta assente no papel. Pondo
o médium os dedos na borda da cesta, o aparelho todo se agita e o lápis escreve
(...)” (LM, cap XIII, it. 154)
Bom!
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