(por Alessandra Mayhé)
Segundo Wantuil e
Thiesen, em seu livro Allan Kardec: o educador e o codificador, há uma
descrição de Kardec feita pela escritora inglesa Anna Blackwell, que o teria
conhecido de perto, e que afirmava que o espírito “ativo e tenaz” de Kardec era
“precavido até quase à friez, cético por natureza e por educação”.¹ Os autores
citam também André moreil, que teria dito que “entre Rivail, o educador, e
Allan Kardec não há diferença alguma, nem de método, nem de rigor científico”².
Mas os fenômenos em
casa de Mme. Plainemaison aconteciam “em condições tais que não deixavam margem
a qualquer dúvida”³. Rivail frequentava assiduamente as reuniões em casa de
Mme. Plainemaison quando teve a oportunidade de conhecer o Sr. Baudin que o
convidou para assistir a uma das reuniões que aconteciam em sua própria casa. Convite
que foi prontamente aceito por Rivail. As reuniões eram assistidas por todos
aqueles que o solicitavam sendo, portanto, muito numerosas, e tinham como
médiuns as duas filhas do Sr. Baudin.
De acordo com os
relatos feitos pelo próprio Rivail e que podem ser verificados no livro “Obras
Póstumas”, foram nessas reuniões que ele entrou em contato com o espírito
Zéfiro, que dizia-se protetor da família Baudin e que depois viria a ajudá-lo
nos trabalhos de codificação da Doutrina. Além disso, pôde Rivail observar
também “comunicações contínuas” e respostas a perguntas formuladas mentalmente,
o que denotava a existência de uma inteligência estranha à reunião.
Rivail percebeu nessas
reuniões a oportunidade para empreender sua pesquisa de uma maneira mais
científica utilizando-se do método dedutivo, sem teorias pré-concebidas,
observando, comparando e analisando, procurando, ao estudar os efeitos,
encontrar as causas. Segundo ele mesmo relata, não admitia “por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades
da questão”³.
PRIMEIRAS
DESCOBERTAS
Uma das primeiras e
importantes observações feitas por Rivail foi a limitação dos conhecimentos dos
espíritos que se comunicavam. Descobriu que o seu saber era limitado ao grau de
adiantamento que possuíam e que, portanto, suas ideias não valiam mais do que
uma opinião pessoal. Segundo o professor, esta observação o eximiu de cometer
erros graves que ocorreriam fatalmente caso acreditasse piamente em toda e
qualquer comunicação espiritual e fortaleceu seu espírito científico
demonstrando a necessidade constante de avaliar judiciosamente cada uma das
manifestações. Rivail admitia, porém que somente o fato de existirem tais
comunicações já era uma prova da existência da alma em um “mundo invisível”.
Outro ponto prontamente
observado por Rivail foi o de que, já que os espíritos detinham conhecimentos
específicos segundo seu grau de adiantamento, era óbvio supor que a paisagem
espiritual descrita por eles também dizia respeito ao restrito conhecimento que
detinham. Dessa forma, uma visão mais abrangente sobre o mundo espiritual
somente seria possível colhendo informações de espíritos de diferentes ordens e
condições, para que assim se pudesse formar um todo de informações. Neste caso,
cada qual podendo “nos ensinar alguma
coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo”4.
OS
CINQUENTA CADERNOS
Rivail era um homem
comum, com problemas comuns e, assim como todo ser humano, necessitava obter
meios para se sustentar. Essas dificuldades domésticas quase o afastaram das
pesquisas sobre o mundo espiritual. Foi o Sr. Carlotti, um amigo próximo seu,
juntamente com outros intelectuais, que convenceram o professor a continuar suas
investigações baseado em cinquenta cadernos onde eles haviam reunido
observações sobre manifestações diversas.
A tarefa de Rivail seria a de “compilar,
separar, comparar, condensar e coordenar as comunicações que os Espíritos lhes
ditaram”5.
O trabalho de Rivail
superou as expectativas. Ele reviu repetições e percebeu falhas ocorridas nas
arguições aos espíritos.
As reuniões em casa do
Sr. Baudin mudaram de caráter. Os temas abordados não eram mais sobre
futilidades. As questões, “previamente
preparadas e metodicamente dispostas”, eram “respondidas com precisão, profundeza e lógica”6.
A princípio, a ideia
de Rivail era a instrução própria. Mais tarde, a situação mudou:
“...
mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de
uma doutrina, tive a ideia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de
toda a gente. Foram aquelas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e
completadas, constituíram a base de O Livro dos Espíritos”6.
Referências:
¹
Allan Kardec: o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen, p.
263
²
Allan Kardec: o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen, p.
264
³ Obras Póstumas, segunda parte, “A minha
primeira iniciação no espiritismo”, p. 326
4Allan Kardec: o
educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen p. 70
5 Allan Kardec: o educador e o codificador,
Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen, p. 272
6 Obras Póstumas, segunda parte, “A minha
primeira iniciação no espiritismo”, p. 329
Nenhum comentário:
Postar um comentário