segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

SÉRIE ALLAN KARDEC - COMEÇA O TRABALHO DE PESQUISA

(por Alessandra Mayhé)

Segundo Wantuil e Thiesen, em seu livro Allan Kardec: o educador e o codificador, há uma descrição de Kardec feita pela escritora inglesa Anna Blackwell, que o teria conhecido de perto, e que afirmava que o espírito “ativo e tenaz” de Kardec era “precavido até quase à friez, cético por natureza e por educação”.¹ Os autores citam também André moreil, que teria dito que “entre Rivail, o educador, e Allan Kardec não há diferença alguma, nem de método, nem de rigor científico”².
Mas os fenômenos em casa de Mme. Plainemaison aconteciam “em condições tais que não deixavam margem a qualquer dúvida”³. Rivail frequentava assiduamente as reuniões em casa de Mme. Plainemaison quando teve a oportunidade de conhecer o Sr. Baudin que o convidou para assistir a uma das reuniões que aconteciam em sua própria casa. Convite que foi prontamente aceito por Rivail. As reuniões eram assistidas por todos aqueles que o solicitavam sendo, portanto, muito numerosas, e tinham como médiuns as duas filhas do Sr. Baudin.
De acordo com os relatos feitos pelo próprio Rivail e que podem ser verificados no livro “Obras Póstumas”, foram nessas reuniões que ele entrou em contato com o espírito Zéfiro, que dizia-se protetor da família Baudin e que depois viria a ajudá-lo nos trabalhos de codificação da Doutrina. Além disso, pôde Rivail observar também “comunicações contínuas” e respostas a perguntas formuladas mentalmente, o que denotava a existência de uma inteligência estranha à reunião.
Rivail percebeu nessas reuniões a oportunidade para empreender sua pesquisa de uma maneira mais científica utilizando-se do método dedutivo, sem teorias pré-concebidas, observando, comparando e analisando, procurando, ao estudar os efeitos, encontrar as causas. Segundo ele mesmo relata, não admitia “por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão”³.


PRIMEIRAS DESCOBERTAS
Uma das primeiras e importantes observações feitas por Rivail foi a limitação dos conhecimentos dos espíritos que se comunicavam. Descobriu que o seu saber era limitado ao grau de adiantamento que possuíam e que, portanto, suas ideias não valiam mais do que uma opinião pessoal. Segundo o professor, esta observação o eximiu de cometer erros graves que ocorreriam fatalmente caso acreditasse piamente em toda e qualquer comunicação espiritual e fortaleceu seu espírito científico demonstrando a necessidade constante de avaliar judiciosamente cada uma das manifestações. Rivail admitia, porém que somente o fato de existirem tais comunicações já era uma prova da existência da alma em um “mundo invisível”.
Outro ponto prontamente observado por Rivail foi o de que, já que os espíritos detinham conhecimentos específicos segundo seu grau de adiantamento, era óbvio supor que a paisagem espiritual descrita por eles também dizia respeito ao restrito conhecimento que detinham. Dessa forma, uma visão mais abrangente sobre o mundo espiritual somente seria possível colhendo informações de espíritos de diferentes ordens e condições, para que assim se pudesse formar um todo de informações. Neste caso, cada qual podendo “nos ensinar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo”4.

OS CINQUENTA CADERNOS
Rivail era um homem comum, com problemas comuns e, assim como todo ser humano, necessitava obter meios para se sustentar. Essas dificuldades domésticas quase o afastaram das pesquisas sobre o mundo espiritual. Foi o Sr. Carlotti, um amigo próximo seu, juntamente com outros intelectuais, que convenceram o professor a continuar suas investigações baseado em cinquenta cadernos onde eles haviam reunido observações sobre manifestações diversas.  A tarefa de Rivail seria a de “compilar, separar, comparar, condensar e coordenar as comunicações que os Espíritos lhes ditaram”5.
O trabalho de Rivail superou as expectativas. Ele reviu repetições e percebeu falhas ocorridas nas arguições aos espíritos.
As reuniões em casa do Sr. Baudin mudaram de caráter. Os temas abordados não eram mais sobre futilidades. As questões, “previamente preparadas e metodicamente dispostas”, eram “respondidas com precisão, profundeza e lógica”6.
A princípio, a ideia de Rivail era a instrução própria. Mais tarde, a situação mudou:
“... mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a ideia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda a gente. Foram aquelas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, constituíram a base de O Livro dos Espíritos”6.

Referências:
¹ Allan Kardec: o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen, p. 263
² Allan Kardec: o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen, p. 264
³ Obras Póstumas, segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo”, p. 326
4Allan Kardec: o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen p. 70
5 Allan Kardec: o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Franscisco Thiesen, p. 272
6 Obras Póstumas, segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo”, p. 329

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