Kardec nasceu
exatamente no dia 18 de abril de 1857 com o lançamento de O Livro dos Espíritos. A opção pela utilização do pseudônimo foi um
recurso que visava evitar que a obra fosse confundida com o trabalho de Rivail
como pedagogo e que isso pudesse, inclusive, prejudicar seu sucesso. A ideia acabou
por definir um marco de início da nova fase de Rivail. O nome deve-se a uma
revelação do espírito Zéfiro que teria convivido com Rivail nas Gálias, em
outra encarnação, na qual este último respondia pela alcunha de Kardec.
A missão de Kardec já
havia sido estipulada e assim que ele a compreendeu, recebeu da espiritualidade
a mensagem de incentivo de que precisava para continuar o empreendimento:
“Ocupa-te,
cheio de zelo e perseverança, do trabalho que empreendeste com o nosso
concurso, pois esse trabalho é nosso. Nele pusemos as bases de um novo edifício
que se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num mesmo sentimento de
amor e caridade. Mas, antes de o divulgares, revê-lo-emos juntos, a fim de lhe
verificarmos todas as minúcias. Estaremos contigo sempre que o pedires, para te
ajudarmos nos teus trabalhos, porquanto esta é apenas uma parte da missão que
te está confiada e que já um de nós te revelou”.¹
A primeira edição do
Livro dos Espíritos foi publicada em formato grande, com apenas 176 páginas,
sendo duas colunas de texto em cada uma. Ao todo eram 501 perguntas e respostas
dividas em três partes:
1. Doutrina Espírita – com 10
capítulos;
2. Leis Morais – com 11 capítulos;
3. Esperanças e Consolações – 13
capítulos.
A repercussão da obra
foi enorme. Segundo Charles Richet, Kardec teria sido o homem que exerceria a
mais penetrante influência no período entre 1847 e 1871, traçando o sulco mais
profundo na ciência metapsíquica.²
O jornal Courrier de Paris, em 11 de julho de
1857, divulga em suas páginas a seguinte matéria assinada pelo senhor G. Du Chalard:
“O Livro
dos Espíritos, do senhor Allan Kardec, é
uma página nova do grande livro do infinito, e estamos convencidos que esta
página será assinalada. (...) Não conhecemos o autor, mas confessamos,
abertamente, que ficaríamos felizes em conhecê-lo. Quem
escreveu a introdução de O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos
os sentimentos nobres”.
“A todos os deserdados
da Terra, a todos quantos avançam ou caem, regando com as lágrimas o pó da
estrada, diremos: Lede o Livro dos Espíritos; ele vos tornará mais fortes.
Também aos felizes, aos que em seu caminho só encontram as aclamações da
multidão e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o e ele vos tornará
melhores”.
Segundo Zeus Wantuil,
Henry Joly, arquivista-paleógrafo francês, teria afirmado que o Livro dos Espíritos realmente oferecia o
corpo da doutrina, de modo a se notar o antigo professor de ciências o que
faria de Kardec o primeiro teórico do espiritismo.³
A segunda edição do Livro dos Espíritos foi lançada em 28 de
março de 1860. Em verdade, a princípio, a idéia teria sido a de publicar uma
segunda parte do livro, uma espécie de segundo volume.
“Por
muito importante que seja esse primeiro trabalho, ele não é, de certo modo,
mais do que uma introdução. Assumirá proporções que longe estás agora de
suspeitar. Tu mesmo compreenderás que certas partes só muito mais tarde e
gradualmente poderão ser dadas a lume, à medida que as novas idéias se
desenvolverem e enraizarem. Dar tudo de uma vez fora imprudente. Importa dar
tempo a que a opinião se forme”4.
Kardec, contudo,
desiste da idéia de criar o segundo volume do livro e opta por um trabalho mais
árduo de ampliação e revisão da primeira edição.
O primeiro livro da
codificação espírita é verdadeiramente um livro da espiritualidade. Ele “nada contém que não seja a expressão do pensamento
deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica
das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem
obra daquele que recebeu a missão de os publicar”1.
Apesar disso, Kardec
sente a necessidade de criar novas terminologias que se adequassem a expressar
melhor os conceitos da nova doutrina. Entre as novas expressões é possível
verificar os vocábulos espírita,
espiritista e espiritismo. Além disso, explica mais detalhadamente
conceitos como espiritual, espiritualista
e espiritualismo. O codificador utiliza-se do termo “filosofia
espiritualista” e explica que:
“Como
especialidade, o Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita; como
generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases
apresenta. Essa a razão porque traz no cabeçalho do seu título as palavras:
Filosofia espiritualista” 5.
O objetivo, portanto,
dessa primeira obra era o de estabelecer os fundamentos da doutrina espírita
sem risco de incorrer em erros e prejuízos. Kardec, no entanto, enfatiza sua
atuação como simples organizador, dispensando os títulos de fundador, criador
ou inventor de uma nova filosofia. Inclusive afirmando posteriormente na
Revista Espírita que o papel de coordenador foi a única parte que lhe coube
nessa obra cabendo toda honra aos Espíritos.
“(...) Allan Kardec, apagando a própria grandeza, na humildade de um mestre- escola, muita vez atormentado e desiludido, como simples homem do povo, deu integral cumprimento à divina missão que trazia à Terra, inaugurando a era espírita-crista, que, gradativamente, será considerada em todos os quadrantes do orbe como a sublime renascença da luz para mundo inteiro” 6.
Referências:
¹
Livro dos Espíritos – prolegômenos
² Allan
Kardec – vol II – bibliografia de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen – p. 103
³
Idem, ibidem, p. 101
4 Obras Póstumas, "Minha primeira iniciação no espiritismo" –
p.347
5
Livro
dos Espíritos – introdução- item I
6 Cartas e Crônicas
– psicografado por Chico Xavier – capítulo 28 (autoria de Irmão X)
Entendendo a doutrina espirita (ditada por muitos espiritos e codificada por Alan Kardec) como a terceira revelacao, temos entao o Velho testamento com o Deus temor, o Novo testamento com o Deus amor e a doutrina espirita como Deus dever.
ResponderExcluirE muitos querem parar no amor ante a visão do dever...
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