segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

SÉRIE ALLAN KARDEC - NASCE KARDEC

Kardec nasceu exatamente no dia 18 de abril de 1857 com o lançamento de O Livro dos Espíritos. A opção pela utilização do pseudônimo foi um recurso que visava evitar que a obra fosse confundida com o trabalho de Rivail como pedagogo e que isso pudesse, inclusive, prejudicar seu sucesso. A ideia acabou por definir um marco de início da nova fase de Rivail. O nome deve-se a uma revelação do espírito Zéfiro que teria convivido com Rivail nas Gálias, em outra encarnação, na qual este último respondia pela alcunha de Kardec.
A missão de Kardec já havia sido estipulada e assim que ele a compreendeu, recebeu da espiritualidade a mensagem de incentivo de que precisava para continuar o empreendimento:
“Ocupa-te, cheio de zelo e perseverança, do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, pois esse trabalho é nosso. Nele pusemos as bases de um novo edifício que se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade. Mas, antes de o divulgares, revê-lo-emos juntos, a fim de lhe verificarmos todas as minúcias. Estaremos contigo sempre que o pedires, para te ajudarmos nos teus trabalhos, porquanto esta é apenas uma parte da missão que te está confiada e que já um de nós te revelou”.¹
A primeira edição do Livro dos Espíritos foi publicada em formato grande, com apenas 176 páginas, sendo duas colunas de texto em cada uma. Ao todo eram 501 perguntas e respostas dividas em três partes:
1.      Doutrina Espírita – com 10 capítulos;
2.      Leis Morais – com 11 capítulos;
3.      Esperanças e Consolações – 13 capítulos.
A repercussão da obra foi enorme. Segundo Charles Richet, Kardec teria sido o homem que exerceria a mais penetrante influência no período entre 1847 e 1871, traçando o sulco mais profundo na ciência metapsíquica.²
O jornal Courrier de Paris, em 11 de julho de 1857, divulga em suas páginas a seguinte matéria assinada pelo senhor G. Du Chalard:
“O Livro dos Espíritos, do senhor Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos convencidos que esta página será assinalada. (...) Não conhecemos o autor, mas confessamos, abertamente, que ficaríamos felizes em conhecê-lo. Quem escreveu a introdução de O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres”.
“A todos os deserdados da Terra, a todos quantos avançam ou caem, regando com as lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede o Livro dos Espíritos; ele vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que em seu caminho só encontram as aclamações da multidão e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o e ele vos tornará melhores”.
Segundo Zeus Wantuil, Henry Joly, arquivista-paleógrafo francês, teria afirmado que o Livro dos Espíritos realmente oferecia o corpo da doutrina, de modo a se notar o antigo professor de ciências o que faria de Kardec o primeiro teórico do espiritismo.³
A segunda edição do Livro dos Espíritos foi lançada em 28 de março de 1860. Em verdade, a princípio, a idéia teria sido a de publicar uma segunda parte do livro, uma espécie de segundo volume.
“Por muito importante que seja esse primeiro trabalho, ele não é, de certo modo, mais do que uma introdução. Assumirá proporções que longe estás agora de suspeitar. Tu mesmo compreenderás que certas partes só muito mais tarde e gradualmente poderão ser dadas a lume, à medida que as novas idéias se desenvolverem e enraizarem. Dar tudo de uma vez fora imprudente. Importa dar tempo a que a opinião se forme”4.
Kardec, contudo, desiste da idéia de criar o segundo volume do livro e opta por um trabalho mais árduo de ampliação e revisão da primeira edição.
O primeiro livro da codificação espírita é verdadeiramente um livro da espiritualidade. Ele “nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem obra daquele que recebeu a missão de os publicar”1.
Apesar disso, Kardec sente a necessidade de criar novas terminologias que se adequassem a expressar melhor os conceitos da nova doutrina. Entre as novas expressões é possível verificar os vocábulos espírita, espiritista e espiritismo. Além disso, explica mais detalhadamente conceitos como espiritual, espiritualista e espiritualismo. O codificador utiliza-se do termo “filosofia espiritualista” e explica que:
“Como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão porque traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista” 5.
O objetivo, portanto, dessa primeira obra era o de estabelecer os fundamentos da doutrina espírita sem risco de incorrer em erros e prejuízos. Kardec, no entanto, enfatiza sua atuação como simples organizador, dispensando os títulos de fundador, criador ou inventor de uma nova filosofia. Inclusive afirmando posteriormente na Revista Espírita que o papel de coordenador foi a única parte que lhe coube nessa obra cabendo toda honra aos Espíritos.

“(...) Allan Kardec, apagando a própria grandeza, na humildade de um mestre- escola, muita vez atormentado e desiludido, como simples homem do povo, deu integral cumprimento à divina missão que trazia à Terra, inaugurando a era espírita-crista, que, gradativamente, será considerada em todos os quadrantes do orbe como a sublime renascença da luz para mundo inteiro 6.



Referências:
¹ Livro dos Espíritos – prolegômenos
² Allan Kardec – vol II – bibliografia de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen – p. 103
³ Idem, ibidem, p. 101
4 Obras Póstumas, "Minha primeira iniciação no espiritismo" – p.347
5 Livro dos Espíritos – introdução- item I
6 Cartas e Crônicas – psicografado por Chico Xavier – capítulo 28 (autoria de Irmão X)

2 comentários:

  1. Entendendo a doutrina espirita (ditada por muitos espiritos e codificada por Alan Kardec) como a terceira revelacao, temos entao o Velho testamento com o Deus temor, o Novo testamento com o Deus amor e a doutrina espirita como Deus dever.

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    1. E muitos querem parar no amor ante a visão do dever...

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