Ao nos depararmos com os estudos da mediunidade, seja por
meio do Livro dos Médiuns, compilado por Allan Kardec, seja participando de
grupos nas Casas Espíritas cujos estudos são norteados pelos programas da
Federação Espírita Brasileira ou ainda pelo contato com obras que abordem o
tema, não raro ocorrem questionamentos sobre diversas atividades prosaicas dos
espíritos. Tenho certeza que você já se pegou pensando nisso. Como assim?
Por exemplo, você já deve ter se questionado como os
desencarnados se alimentam. Ou se pegou pensando a respeito de como eles
desenvolvem outras atividades corriqueiras para nós encarnados, como tomar
banho, dormir, ler... estou certo?
Pois bem. Na obra Evolução em Dois Mundos, da série André
Luiz, o autor espiritual aborda diversos temas ligados à vida na pátria
espiritual, transcorre e percorre ensinamentos sobre o fluido cósmico, o corpo
espiritual, a evolução ligada a temáticas como o sexo, a hereditariedade, o
metabolismo, aborda o princípio espiritual e sua evolução e trata de outros
temas “daquela vida de lá”, como, por exemplo a linguagem entre os desencarnados.
Aí, penso eu, tratando de uma maneira bem leve e informal,
não deve ser raro que surjam dúvidas tipo: “eles usam a boca para falar?”, “um
desencarnado do Japão vai conseguir entender um do Brasil?”, “se eu
(desencarnado) cobrir os ouvidos, ainda assim ouvirei o que o outro está a
dizer?” – pelo menos eu tenho essas dúvidas comigo.
Apesar de no capítulo 2 da Segunda Parte da obra André Luiz
não discorrer profundamente sobre o tema, ele já nos deixa alguns apontamentos
bastante interessantes e algumas conclusões implícitas.
Ele já começa nos alertando que a linguagem espiritual é, de
modo incontestável, uma exteriorização da imagem de si próprio. Oi? Como assim?
Usando um termo bastante clichê, mas não sem importância, isso significa que o corpo
fala. Enquanto encarnados, em quantas situações diárias precisamos de poucas ou
até de nenhuma palavra para demonstrar o que queremos ou para entender o que o
outro nos “fala”? Uma expressão, uma posição do corpo, um movimento de
sobrancelhas, o cruzar dos braços... enfim, o corpo muitas vezes (ou sempre)
fala conosco, podendo reforçar ou desmentir as palavras que saem da boca.
Agora imagine então na esfera espiritual, livre das amarras
materiais, onde a capacidade e a plenitude de nosso campo mental atingem
limites que não temos sequer noção (ou momentaneamente não nos lembramos)?
Considerando então a evolução pertinente a cada desencarnado, os mais elevados,
como alerta André Luiz, precisarão de “poucas palavras para definir a largueza
de seus planos e sentimentos”. Por certo, a sua expressão corporal e a
irradiação de suas formas-pensamento conseguem transmitir com exatidão o que
pretendem, podendo os mesmos permanecer em silêncio ou com o mínimo emprego de
formas verbais.
Por sua vez, as inteligências menos evoluídas (ou infelizes,
como trata o autor) farão uso de muitas formas verbais, mas não deixarão de
enviar mensagens várias sob a forma de telas mentais – talvez até
involuntariamente.
Isso porque no mundo espiritual os circuitos de pensamento e
as vibrações e emanações energéticas estão mais livres. E obedecem ao princípio
de que as entidades mais evoluídas, menos apegadas aos temas materiais,
conseguem ver e perceber as emanações daquelas que lhe são inferiores, mesmo
quando ainda há a presença de períspiritos grosseiros – sendo que o contrário
não ocorre. E isso não é um milagre, é lei física da Inteligência Criadora em virtude
das faixas de frequência de vibração que caminham ao encontro de toda a Justiça
da Criação.
Claro que, muita vez, as telas mentais das inteligências
sofredoras ou menos evoluídas acabarão por “formar telas aflitivas em circuitos
mentais fechados e obsessivos”. E essa “fala”, essa comunicação, pode ser tanto
percebida pelos desencarnados quanto pelos encarnados... E, em todos os casos,
sejam mensagens sublimes ou atormentadas, percebidas e sintonizadas. Pense um
pouco nisso agora...
Pensou? Então, é graças a esse princípio de comunicação,
essa possibilidade de “falar muito mais do que se quer dizer” que o espírito
possui por meio de sua mente que, em diversos casos, os médiuns encarnados
conseguem sintonizar com entidades desencarnadas durante seu transe e
reproduzir conceitos sem que necessariamente o espírito comunicante tenha
ditado termo por termo, palavra por palavra. E, mesmo sendo uma entidade
altamente evoluída, de linguajar complexo e rebuscado ou até mesmo de idioma
diferente do que possui o vaso comunicante, a mensagem será transmitida, pois o
receptor reproduzirá com suas ferramentas, com as palavras que possui em seu
cabedal, a mensagem que consegue auferir dos quadros que se lhe apresentam.
Ora, se na “conversa” entre espírito e médium encarnado isso
acontece, como não ocorreria naquela entre desencarnados? Na verdade, temos
sempre de nos lembrar (falo por mim, mas que cada um fique à vontade para se
juntar) que “aqui” não é o mundo primário e sim “lá” – a pátria espiritual pode
e vai continuar a existir se tudo o que temos aqui no plano material deixar de
ser, ou seja, as leis na verdade existem e foram criadas lá e se repetem aqui e
não o contrário.
Obviamente, pela misericórdia divina, nosso estágio
evolutivo é respeitado e nossas limitações também o são pela espiritualidade –
o que, por exemplo, nós reproduzimos ao lidar com bebês que se esforçam para
nos transmitir, por meio de sua fala incipiente, seus recados ou ao tratar com
estrangeiros que, em nosso país, tentam se comunicar.
Assim sendo, apesar de toda a evolução certa e distante que
já há em outros tantos cantos do Universo e da importância que a imagem e a
constituição de quadros e formas em maneira de telas mentais e vibrações ou
sutilezas possuem, na nossa escala evolutiva, como destaca André Luiz, “é
forçoso observar que a linguagem articulada, no chamado espaço das nações,
ainda possui fundamental importância nas regiões a que o homem comum será
transferido imediatamente após desligar-se do corpo físico”.
Ou seja, caros amigos, podemos nos tranquilizar no sentido
de que nossos apelos, gritos, lamúrias, agradecimentos e preces poderão
continuar a ser feitos pela boca, do modo que estamos ainda acostumados. Mas,
desde há tempos, fica o chamado para que também aprendamos a fazê-los pelo e
com o coração, com seu nascimento no âmago de nossos espíritos.
Quando atingirmos isso, quando conseguirmos alcançar o imo
de nossos seres, por certo dispensaremos a maior parte das palavras,
desfrutaremos de uma linguagem mais acertada e seremos muito mais felizes em
nossas conversações.
Fiquem com Deus!
(Por: Pablo Angely)