(Por Alessandra Mayhé)
Espírito
Protetor
No livro “Obras Póstumas”¹, Rivail nos conta, em
dezembro de 1855, que tinha dúvidas com relação ao fato de ter ou não ele mesmo
um espírito protetor. Em suas observações, ele comenta a ingenuidade das suas
perguntas explicando-as com o fato de ser ainda muito novato nos assuntos
referentes ao mundo espiritual. Porém, a resposta que obtém dos espíritos é
positiva, e junto com ela vem a indicação de que algo maior ainda lhe seria
revelado.
Rivail — Quando, faz algum
tempo, evocamos S. e lhe perguntamos se poderia ser o gênio protetor de um de
nós, ele respondeu: “Mostre-se um de vós digno disso, e estarei com esse; Z.
vo-lo dirá.” Julgas que eu poderei merecer esse favor?
Espírito — Se o quiseres.
Rivail — Que me é necessário
para isso?
Espírito — Fazer todo o bem que
possas e suportar com coragem as penas da vida.
Rivail — Pela natureza da
minha inteligência, terei aptidão para penetrar, tanto quanto ao homem for
permitido fazê-lo, as grandes verdades acerca do nosso destino futuro?
Espírito — Sim, tens a aptidão
necessária, mas o resultado dependerá da tua perseverança no trabalho.
Rivail — Poderei concorrer
para a propagação dessas verdades?
Espírito — Sem dúvida.
Rivail — Por que meios?
Espírito — Sabê-lo-ás mais tarde; enquanto esperas, trabalha.
Poucos meses depois,
porém, seu espírito protetor se fez presente, a princípio manifestando-se
através de ruídos na parede enquanto Rivail trabalhava. Mme Rivail, ao chegar a
casa mais tarde, também as ouviu, porém nenhum dos dois conseguiu localizar a
causa das tais pancadas.
Em sessão no dia
seguinte na casa do Sr. Baudin, Rivail aproveita para perguntar sobre o que
acontecera no dia anterior. A resposta foi clara e objetiva: - “Era o teu
espírito famíliar.” – Disse-lhe o espírito comunicante, na ocasião.
O “espírito
familiar”, ou guia, apresentou-se a Rivail como sendo a Verdade, e disse haver
feito os ruídos para chamar a atenção de Rivail sobre o que ele escrevia
naquele momento. Solicitou-o que relesse o que havia escrito, indicando-lhe
inclusive as linhas que deveria reler. E quando perguntado sobre o porquê de
utilizar-se de um pseudônimo sem se revelar, o espírito respondeu numa clara
intenção de que fosse conservada a discrição:
Espírito — Já te disse que, para
ti, sou a Verdade; isto, para ti, quer dizer discrição; nada
mais saberás a respeito.²
Não é preciso dizer
que, ao reler o que havia escrito na noite anterior, Rivail realmente se
deparou com um erro grave que, ele mesmo declarou ter se espantando de o haver
cometido.
A proteção do
espírito Verdade configurou-se como sendo total na vida de Rivail.
A primeira revelação
da missão de Rivail veio no dia 30 de abril de 1856, com uma menção direta de
um espírito citando-lhe o nome e indicando-o como o “obreiro que reconstrói o que foi demolido”³.
Posteriormente, no
dia 07 de maio, Rivail tem a confirmação da missão que lhe foi designada
através de uma comunicação na casa do Sr. Roustan4.
Espírito — Tens que cumprir aquilo
com que sonhas desde longo tempo. É preciso que nisso trabalhes ativamente,
para estares pronto, pois mais próximo do que pensas vem o dia.
Rivail — Para desempenhar
essa missão tal como a concebo, são-me necessários meios de execução que ainda
não se acham ao meu alcance.
Espírito — Deixa que a Providência faça a sua obra e serás satisfeito.
Missão
de Rivail
Quanto à missão de
Kardec, Emmanuel nos esclarece no livro “A
caminho da Luz”5 que “a
tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o
edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às suas profundas
bases religiosas”.
Apesar do alerta da
espiritualidade quanto à dificuldade de sua missão e os percalços que teria,
Rivail responde em forma de prece:
“Espírito de Verdade, agradeço os teus
sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.
Senhor, pois que te
dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se
a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida, dispõe do teu servo. Reconheço
a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não
desfalecerá, as forças, porem, talvez me traiam. Supre a minha deficiência;
dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos
momentos difíceis e, com o teu auxilio e dos teus celestes mensageiros, tudo
envidarei para corresponder aos teus desígnios”6.
Começava então aí um
novo momento na vida de Rivail, a preparação de O Livro dos Espíritos.
Referências:
¹
Obras Póstumas, segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo - Meu
espírito protetor”
²
Obras Póstumas, segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo - Meu
guia espiritual”
³
Obras Póstumas, segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo –
Primeira revelação da minha missão”
4
Obras
Póstumas, segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo – Minha
missão”
5 A Caminho da Luz,
cap. XXIII, “O século XIX – A tarefa do missionário”
6 Obras Póstumas,
segunda parte, “A minha primeira iniciação no espiritismo – minha missão”