segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

SÉRIE ALLAN KARDEC - PROFESSOR RIVAIL


DE VOLTA À FRANÇA
Não se sabe ao certo quando Rivail chegou à Paris, nem mesmo se ele realmente teria ido primeiro a Lyon antes de instalar-se na capital francesa, o fato é que, assim que chegou a Paris, o jovem professor pôs-se a trabalhar no exercício do magistério, utilizando seu tempo livre para a tradução de livros ingleses e alemães, e para a preparação de sua primeira obra.

« Cours Pratique et Theórique d’Arithmétique, d’aprés la methode de Pestalozzi, avec des modifications », esse era o nome de seu livro que foi publicado com data de 1824, apesar de já ter seu registro apresentado em dezembro de 1823 na Bibliographie de la France.
A obra em questão, de cunho pedagógico, era destinada não somente aos profissionais da educação básica francesa, como também às mães que quisessem ajudar seus filhos ensinando-lhes as primeiras noções de aritmética. Baseado nos conceitos pestalozzianos, a obra primava pela simplicidade e clareza, desenvolvendo gradualmente as capacidades intelectuais da criança.
Apesar da forte e inquestionável influência do método intuitivo de pestalozzi, a obra traz muitas idéias originais e práticas do próprio Rivail, o que ele já deixa explicito no título da própria obra.
Já nesse primeiro trabalho é possível observar algumas de suas características mais marcantes e que posteriormente o ajudarão na codificação da doutrina espírita: o altruísmo e a humildade. Em seu “Discurso Preliminar”, com o qual abre o seu livro, Rivail declara:
“Desejando-me tornar útil aos jovens e concorrer com todas as minhas forças para aplainar-lhes a trilha árdua dos estudos, aproveitarei, com empenho, os conselhos que de boa vontade me chegarem de pessoas que me são superiores pelo saber e pela experiência, considerando ainda que a aprovação dos homens de bem sempre me será gratíssima recompensa”.
O livro em questão começou a ser escrito por Rivail quando o mesmo tinha somente 18 anos, e foi publicado pouco após ele completar os 19 anos de idade.

OUTRAS OBRAS DE RIVAIL
Em 1828, Rivail escreve seu primeiro trabalho com o intuito claro de colaborar na reforma do ensino francês. Nele, o autor propõe, entre outras coisas, a criação de uma escola de pedagogia e afirma ser essa disciplina uma ciência.
Em «Plan proposé pour l’amélioration de l’éducation publique», Rivail tece comentários interessante sobre a necessidade de se desenvolverem as virtudes nas crianças, já em tenra idade, reprimindo-lhes os vícios. Condena, contudo, que para tanto sejam usados castigos e punições corporais.
O espírito científico do autor fica bastante evidente em suas colocações, em especial na sua tentativa de considerar a pedagogia uma ciência e ao salientar a importância da capacitação daquele que se propõe a exercê-la.
Além dessa, pode-se contar inúmeras outras publicações de Rivail voltadas para o ensino francês, tais como:
       1831- Gramática Francesa Clássica
       1831- Qual o Sistema de Estudos mais em Harmonia com as Necessidades da Época?
       1831- Memória sobre a Instrução Pública
       1845 - Curso de Cálculo Mental
       1846- Manual dos Exames para os Títulos de Capacidade
       1847- Soluções dos Exercícios e Problemas do Tratado Completo de Aritmética
       1847- Projeto de Reforma no Tocante aos Exames e aos Educandários para Meninas
       1848- Catecismo Gramatical da Língua Francesa
       1849 – Programa dos Cursos Usuais de Física, Química, Astronomia e Fisiologia.

INSTITUTO RIVAIL
Em meados de 1825, Rivail começa seu trabalho como diretor de escola. A “École de premier degré" é o primeiro estabelecimento de ensino fundado por ele em Paris.
Em 1826, Rivail funda o Instituto Rivail, onde ele exercia atividades administrativas e pedagógicas, também seguindo o modelo pestalozziano.
No instituto eram ministradas matérias básicas, como os elementos e a história da literatura francesa, exercícios de gramática e estilo, geografia, história e elementos de cosmografia. Com o intuito de reforçar a formação dos jovens, Rivail incluiu dentre as matérias o ensino da física e da química.
Assim como seu mestre Pestalozzi, Rivail exercia sua função pedagógica como uma espécie de segundo pai, ministrando aos jovens as aulas necessárias à sua formação intelectual e, ao mesmo tempo, preparando-os para a realidade do mundo social.
Em 1832 Rivail casa-se com Amélie-Gabrielle Boudet, também professora, e que se tornaria a grande companheira de Rivail no Instituto e, posteriormente, também em seus trabalhos na codificação do Espiritismo.
Seu salário dependia das contribuições escolares e de algumas condições afixadas pela municipalidade, portanto sua vida financeira era muito modesta. O próprio Instituto só funcionava devido ao apoio financeiro dado pelo seu tio materno.
Contudo, devido à paixão de seu tio pelo jogo, a instituição constantemente passava por graves crises financeiras. E após grande soma perdida por ele em jogatinas nas estações balneárias de Aachem (Alemanha) e Spa (Bélgica), tornou-se impossível sustentar a situação do Instituto que teve que fechar suas portas em 1834.
Todos os anos o Instituto promovia uma solenidade festiva para o encerramento do ano letivo. Em 8 de agosto de 1834, a solenidade correu como programada. Rivail ainda não sabia que teria que fechar as portas da instituição, fazendo inclusive uma programação para o ano seguinte na qual constava a inclusão de mais duas matérias no currículo dos alunos: anatomia e fisiologia.
Rivail encerra seu discurso na solenidade com a seguinte orientação para os jovens estudantes:
“... instruindo-vos, trabalhais em prol da vossa própria felicidade”
Por alguma razão desconhecida, em todos os 8 anos de existência do Instituto, somente a solenidade ocorrida em 1834 ficou registrada em uma brochura e foi anunciada na Bibliographie de la France em 23 de agosto do mesmo ano.

Após a liquidação do Instituto, restou somente 45 mil francos para cada sócio. A parte que cabia a Rivail, ele confiou a um amigo da família, negociante, que, contudo, tempos depois entrou em falência, deixando Rivail em complicada situação financeira.

Referências: 
WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador, v.1. 3 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007

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