segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

SÉRIE ALLAN KARDEC - ENQUANTO ISSO...

Seria impossível falarmos sobre a vida do Prof. Rivail (Kardec) sem mencionarmos acontecimentos que mudaram radicalmente os rígidos conceitos da humanidade sobre a sobrevivência do espírito.
Enquanto, na Europa, Rivail tornava-se cada vez mais célebre e respeitado em sua profissão, nos Estados Unidos, em especial em uma aldeia do estado de Nova York chamada Hydesville, acontecimentos começavam a preparar o mundo para o entendimento da realidade espiritual.
Em um barracão de madeira, onde morava a família Fox, ruídos e pancadas começaram a ser ouvidos todas as noites. Era 1848.
Na noite de 31 de março daquele ano, após três noites sem conseguirem dormir direito, o casal Fox e suas três filhas, voltaram a ouvir as pancadas que rapidamente tornaram-se estrondos que faziam tremer todos os móveis da casa. Kate Fox, a filha mais nova do casal, resolveu desafiar quem pudesse estar por trás daqueles barulhos e, batendo com os dedos sobre um móvel, conclamou o autor das batidas a repetir o seu gesto. Imediatamente, foram ouvidas pancadas em igual número às que a menina havia produzido. Empolgada, a sua irmã Margaretta fez o mesmo desafiando o desconhecido a repetir em número as batidas que produzia com os dedos.
A partir deste método simples, os Fox fizeram várias perguntas ao desconhecido e descobriram que ele se tratava de um vendedor ambulante assassinado pelos antigos moradores da casa, havia cinco anos.
Na impossibilidade de encontrar os Bell (casal que havia residido na casa e que estava sendo acusado de cometer o homicídio), entrevistou-se a antiga criada, Lucretia Pulver, que se lembrou de um ambulante que chegou certo dia ao barracão. Segundo ela, os Bell a mandaram dormir na casa de seus pais para que o vendedor pudesse pernoitar no barracão. Ao retornar no dia seguinte, o vendedor já não estava mais na casa e seus patrões alegaram que ele havia partido logo cedo naquele mesmo dia.
Apesar das escavações que foram feitas no porão da casa e de alguns ossos encontrados, nada se pôde provar sobre a existência daquele vendedor. Contudo, 55 anos após o ocorrido, algumas crianças que brincavam próximo às ruínas do barracão dos Fox encontraram um esqueleto humano junto a uma parede interna que havia caído. O casal Bell havia escondido o cadáver junto a parede da adega e construído uma outra parede para ocultar o cadáver.
Em 23 de novembro de 1904, o jornal Boston Journal dava a notícia afirmando terem ficado esclarecidas as últimas duvidas que persistiam sobre a história de Hydesville.
Na Europa, os fenômenos mediúnicos também viraram notícia a partir de 1853, com o advento das Mesas Girantes. A princípio um fenômeno para saciar a curiosidade e a futilidade de todos, as Mesas eram o assunto principal em todos os lugares.
“Toda a Europa (que digo eu, a Europa?), neste momento o mundo inteiro tem o espírito voltado para uma experiência que consiste em fazer girar uma mesa. Só se ouve falar, por toda parte, da mesa que gira; (...) Ide por aqui, ide por ali, nos grandes salões, nas mais humildes mansardas, no atelier do pintor em Londres, em Paris, em New York, em São Petersburgo – e vereis pessoas gravemente sentadas em torno de uma mesa vazia, que eles contemplam a semelhança daqueles crentes que passam a vida a olhar seus umbigos! Oh, a mesa! Ela fez tábua rasa dos nossos prazeres de todas as tardes”. (Julio Janin, crítico e literato francês. Artigo publicado no periódico L’Illustration de 14 de maio de 1853)
Eram raros os que tinham naquele fenômeno interesse maior do que o do simples passatempo. Poucas eram as tentativas de explicação do fenômeno e, mesmo assim, eram descartadas por não satisfazerem aos fatos observados.
Fenômeno que no seu começo foi considerado pelo Padre Ventura de Raulica, o mais ilustre representante da teologia e da filosofia católicas da época, como “o maior acontecimento do século”, foi visto posteriormente como obra de satanás após o relato de um eclesiástico que declarou ter encontrado satã em pessoa em uma mesa de três pés. Este fato rendeu ao fenômeno das mesas uma “fama sinistra que lhes valeu serem postas formalmente no Index¹”. (L’Illustration – 24/12/1853).
Como pouca gente acreditava no diabo, em 04 de agosto de 1856, o Santo Ofício condenou os fenômenos alegando serem obra de hipnotismo e magnetismo, chamando de hereges àqueles que os produziam.
Segundo seu próprio relato na Revista Espírita de 1858, Rivail era um estudioso do magnetismo desde os 18 anos, tendo sua curiosidade despertada para o estudo do magnetismo animal desde quando chegara à Paris após os estudos em Yverdum.
Ciência conhecida também como Mesmerismo por ter sido renovada por Franz Anton Mesmer, doutor da Universidade de Viena, o Magnetismo chamou atenção, principalmente, por seu efeito curador, o que confirmava a veracidade dos fenômenos.
Rivail dedicou-se ao magnetismo sem abdicar de suas tarefas educacionais, e utilizou no estudo desta ciência o mesmo critério que utilizava em tudo que fazia, utilizando-se sempre de estudos teóricos e práticos do fenômeno, em especial do sonambúlico, estudando em todos os seus graus.
Sua mentalidade cientifica fê-lo estudar não somente as obras favoráveis a esta ciência, mas também as desfavoráveis, fixando-se em particular às escritas por “homens em evidencia”, segundo ele mesmo relata.
O que mais impressionava Rivail era a aplicação terapêutica do magnetismo, tendo ele mesmo se tornado “experimentado magnetizador”, segundo relatou Leymarie na Revista Espírita de 1871. Tendo feito parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris, segundo Anna Blackwell nos conta no prefácio à sua tradução inglesa de O Livro dos Espíritos. Apesar das dissensões existentes entre os magnetizadores, Rivail não tomou partido de nenhum dos lados, fazendo amizades em ambos.

Foi assim que Rivail conheceu o magnetizador Fortier que em 1854 lhe falaria pela primeira vez nas mesas girantes.


Referências: 
WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador, v.1. 3 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007

Um comentário:

  1. Apesar do marco dos fenômenos em Hydesville e da irmãs Fox, interessante notar que fenômenos "mediúnicos" assim existiram desde sempre. Falo isso porque recentemente vi uma reportagem na TV em que o narrador falava que o espiritismo foi criado ali - na verdade, ele quis dar uma explicação resumida, penso que pelo pouco tempo disponível, e na confusão do texto parece que elas são as "criadoras" do espiritismo...

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