Seria impossível
falarmos sobre a vida do Prof. Rivail (Kardec) sem mencionarmos acontecimentos
que mudaram radicalmente os rígidos conceitos da humanidade sobre a
sobrevivência do espírito.
Enquanto, na Europa,
Rivail tornava-se cada vez mais célebre e respeitado em sua profissão, nos
Estados Unidos, em especial em uma aldeia do estado de Nova York chamada
Hydesville, acontecimentos começavam a preparar o mundo para o entendimento da
realidade espiritual.
Em um barracão de
madeira, onde morava a família Fox, ruídos e pancadas começaram a ser ouvidos
todas as noites. Era 1848.
A partir deste método
simples, os Fox fizeram várias perguntas ao desconhecido e descobriram que ele
se tratava de um vendedor ambulante assassinado pelos antigos moradores da
casa, havia cinco anos.
Na impossibilidade de
encontrar os Bell (casal que havia residido na casa e que estava sendo acusado
de cometer o homicídio), entrevistou-se a antiga criada, Lucretia Pulver, que
se lembrou de um ambulante que chegou certo dia ao barracão. Segundo ela, os
Bell a mandaram dormir na casa de seus pais para que o vendedor pudesse
pernoitar no barracão. Ao retornar no dia seguinte, o vendedor já não estava
mais na casa e seus patrões alegaram que ele havia partido logo cedo naquele
mesmo dia.
Apesar das escavações
que foram feitas no porão da casa e de alguns ossos encontrados, nada se pôde
provar sobre a existência daquele vendedor. Contudo, 55 anos após o ocorrido,
algumas crianças que brincavam próximo às ruínas do barracão dos Fox
encontraram um esqueleto humano junto a uma parede interna que havia caído. O
casal Bell havia escondido o cadáver junto a parede da adega e construído uma
outra parede para ocultar o cadáver.
Em 23 de novembro de
1904, o jornal Boston Journal dava a notícia afirmando terem ficado
esclarecidas as últimas duvidas que persistiam sobre a história de Hydesville.
Na Europa, os fenômenos
mediúnicos também viraram notícia a partir de 1853, com o advento das Mesas
Girantes. A princípio um fenômeno para saciar a curiosidade e a futilidade de
todos, as Mesas eram o assunto principal em todos os lugares.
“Toda
a Europa (que digo eu, a Europa?), neste momento o mundo inteiro tem o espírito
voltado para uma experiência que consiste em fazer girar uma mesa. Só se ouve
falar, por toda parte, da mesa que gira; (...) Ide por aqui, ide por ali, nos
grandes salões, nas mais humildes mansardas, no atelier do pintor em Londres,
em Paris, em New York ,
em São Petersburgo
– e vereis pessoas gravemente sentadas em torno de uma mesa vazia, que eles
contemplam a semelhança daqueles crentes que passam a vida a olhar seus
umbigos! Oh, a mesa! Ela fez tábua rasa dos nossos prazeres de todas as
tardes”. (Julio
Janin, crítico e literato francês. Artigo publicado no periódico L’Illustration
de 14 de maio de 1853)
Eram raros os que
tinham naquele fenômeno interesse maior do que o do simples passatempo. Poucas
eram as tentativas de explicação do fenômeno e, mesmo assim, eram descartadas
por não satisfazerem aos fatos observados.
Fenômeno que no seu
começo foi considerado pelo Padre Ventura de Raulica, o mais ilustre
representante da teologia e da filosofia católicas da época, como “o maior acontecimento do século”, foi
visto posteriormente como obra de satanás após o relato de um eclesiástico que
declarou ter encontrado satã em pessoa em uma mesa de três pés. Este fato
rendeu ao fenômeno das mesas uma “fama
sinistra que lhes valeu serem postas formalmente no Index¹”.
(L’Illustration – 24/12/1853).
Como pouca gente
acreditava no diabo, em 04 de agosto de 1856, o Santo Ofício condenou os
fenômenos alegando serem obra de hipnotismo e magnetismo, chamando de hereges
àqueles que os produziam.
Segundo seu próprio
relato na Revista Espírita de 1858, Rivail era um estudioso do magnetismo desde
os 18 anos, tendo sua curiosidade despertada para o estudo do magnetismo animal
desde quando chegara à Paris após os estudos em Yverdum.
Ciência conhecida
também como Mesmerismo por ter sido renovada por Franz Anton Mesmer, doutor da
Universidade de Viena, o Magnetismo chamou atenção, principalmente, por seu
efeito curador, o que confirmava a veracidade dos fenômenos.
Rivail dedicou-se ao
magnetismo sem abdicar de suas tarefas educacionais, e utilizou no estudo desta
ciência o mesmo critério que utilizava em tudo que fazia, utilizando-se sempre
de estudos teóricos e práticos do fenômeno, em especial do sonambúlico,
estudando em todos os seus graus.
Sua mentalidade
cientifica fê-lo estudar não somente as obras favoráveis a esta ciência, mas
também as desfavoráveis, fixando-se em particular às escritas por “homens em
evidencia”, segundo ele mesmo relata.
O que mais
impressionava Rivail era a aplicação terapêutica do magnetismo, tendo ele mesmo
se tornado “experimentado magnetizador”, segundo relatou Leymarie na Revista
Espírita de 1871. Tendo feito parte ativa nos trabalhos da Sociedade de
Magnetismo de Paris, segundo Anna Blackwell nos conta no prefácio à sua
tradução inglesa de O Livro dos Espíritos. Apesar das dissensões existentes entre
os magnetizadores, Rivail não tomou partido de nenhum dos lados, fazendo
amizades em ambos.
Foi assim que Rivail
conheceu o magnetizador Fortier que em 1854 lhe falaria pela primeira vez nas
mesas girantes.
Referências:
WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador, v.1. 3 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007
Apesar do marco dos fenômenos em Hydesville e da irmãs Fox, interessante notar que fenômenos "mediúnicos" assim existiram desde sempre. Falo isso porque recentemente vi uma reportagem na TV em que o narrador falava que o espiritismo foi criado ali - na verdade, ele quis dar uma explicação resumida, penso que pelo pouco tempo disponível, e na confusão do texto parece que elas são as "criadoras" do espiritismo...
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