segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

SÉRIE ALLAN KARDEC - PRIMEIROS PASSOS

Olá, amigos!
Esta é uma série de artigos dedicados a contar um pouco da história do Codificador da Doutrina Espírita: Allan Kardec.
Como toda história que se preze, vamos começar pelo começo.... vamos começar vendo como Kardec deu os primeiros passos em sua jornada reencarnatória e as influências que sofreu para que se tornasse um "livre pensador".

03 de outubro de 1804.
Em uma cidadezinha chamada Lyon, perto de Paris, na França, nasce Hyppolite Leon Denizard Rivail. Filho de Jean-Baptiste Antoine Rivail, exímio magistrado, e Jeanne Louise Duhamel, membros de respeitada família lionesa, Hyppolite desde cedo foi criado sob rígidos princípios morais e com grande consciência de suas responsabilidades e deveres. Como um pequeno adulto, já demonstrava inclinação forte para os questionamentos filosóficos e as ciências.

Sua educação básica ocorreu em sua cidade natal, Lyon, porém aos 10 anos foi enviado pelos seus pais à Suíça para estudar no Castelo de Yverdun onde funcionava o Instituto Pestalozzi.

Foi nessa escola que lhe desabrocharam as idéias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livre-pensadores”.
(Revista Espírita – maio de 1869)

Freqüentado por personalidades de renome da época, o Instituto fora fundado por Johann Heinrich Pestalozzi, um pedagogo que mudou a história da educação no mundo e, com suas teorias, influenciou definitivamente os pensamentos de Hyppolite.

Teorias de Pestalozzi
Neste momento é importante contextualizarmos um pouco o pensamento que vigorava na época para entendermos o quão revolucionárias e contrárias ao conceito vigente de educação eram as teorias de Pestalozzi.
Após a Revolução Francesa, em 1789, um dos temas mais importantes e discutidos foi o da Educação. O direito a uma educação pública era admitido por todos, porém de maneiras diferentes. Enquanto alguns pensavam que ele deveria ser estendido a todas as pessoas, haviam aqueles que acreditavam que o ensino deveria ser dado somente àqueles que tivessem posses. Não viam fundamento em ensinar pobres e escravos a ler e a escrever, e argumentavam que este tipo de conhecimento "não os ensinará a melhor lavrar a terra, não irá lhes melhorar os costumes, nem lhes tirar a malícia [...] nem os torna mais dóceis ao seu pastor, nem os torna mais virtuosos e mais cristãos" (Padre Réguis, cura de Lisieux).
 A discussão existente após a Revolução Francesa, já havia sido levantada bem antes, por um iluminista chamado Rousseau. Ele via a educação na infância como algo que deveria ser natural, utilizando da realidade da própria criança no aprendizado.
Criticava a escola de seu tempo, a rigidez da instrução, os castigos físicos e o uso excessivo da memória. A contribuição de Rousseau para a educação infantil é inestimável e foi a grande influência de Pestalozzi.
 Seguindo as concepções do iluminista, o pedagogo Pestalozzi “psicologizou” a educação. Segundo ele, a educação era o meio supremo para o aperfeiçoamento individual e social, um direito absoluto, por meio do qual as crianças iriam desenvolver os poderes que Deus havia lhes dado. Fundamentou a educação no desenvolvimento orgânico, mais que na transmissão de idéias. Pesquisou sobre as leis fundamentais do desenvolvimento, teorizando que esse é adquirido gradativamente, além de incentivar a formação de professores e divulgar a educação como ciência.
Pestalozzi acreditava que a educação deveria guiar-se pelo método intuitivo, onde:

  • A aprendizagem é produto da observação, ou seja, da percepção. A criança parte da observação de um objeto, pelos sentidos alimenta a intuição (ou a mente) de conteúdos, permitindo a construção de hipóteses, ou seja, a produção do conhecimento.
  • A época de ensinar não é a de julgar e criticar.
  • É chamado método intuitivo por que é a intuição a parte ativa da mente que atua sobre as sensações, o material que vem dos sentidos, e a percepção, gerando o conhecimento.
  • O ensino deve começar pelo elemento mais simples e proceder, gradualmente, de acordo com o desenvolvimento da criança. O tempo de ensino deve respeitar as diferenças de aprendizagem de cada aluno e assim alcançar o domínio do conhecimento.
  • O objetivo central do ensino, na concepção de Pestalozzi, é o desenvolvimento da inteligência do aluno e não a transmissão de conhecimento.
  • A individualidade do aluno deve ser sagrada para o educador.
  • As relações entre o professor e o aluno devem ser baseadas e reguladas pelo amor.


Como vemos, os conceitos preconizados por Rousseau e seguidos por Pestalozzi, não são nada estranhos à pedagogia moderna atual, o que demonstra a visão avançada que tais pensadores tinham em suas épocas.

Influências sobre Rivail
No Castelo de Yverdun, Rivail destacou-se imediatamente tornando-se um dos maiores discípulos dos ensinos de Pestalozzi. Aos 14 anos já era capaz de ensinar aos seus condiscípulos aquilo que havia aprendido.
Esse momento é de suma importância na história de Rivail. Nascido e criado em berço católico, vê-se então estudando afastado de sua família em uma instituição de orientação protestante submetido a um modelo liberal de educação.
Todo pensamento Pestalozziano já fazia então parte do arcabouço de conhecimento de Rivail, principalmente as idéias sobre o método intuitivo e a questão da violência como fator criador de obstáculos ao ensino.
Ao concluir seus estudos, Rivail volta à França. Começa um trabalho de tradução para o alemão de diferentes obras de educação e de moral.
Em sua primeira obra própria, Rivail já demonstra a grande influência que teve sua educação em Yverdun sobre seu conceito de educação. Ele relaciona em seis itens aqueles que ele considera mais adequados ao ensino infantil. A obra chamava-se Cours d’Arithmétique e os princípios enumerados foram:
1.   Cultivar o espírito natural de observação das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que as cercam.
2. Cultivar a inteligência, observando um comportamento que habilite o aluno a descobrir por si mesmo as regras.
3.  Proceder sempre do conhecido para o desconhecido, do simples para o composto.


4.  Evitar toda atitude mecânica (mécanisme), levando o aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz.
5. Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades. 
6.  Só confiar à memória aquilo que já tenha sido apreendido pela inteligência.

Começa assim a carreira notória do Professor Rivail em toda Europa.


(Texto adaptado do livro Allan Kardec: o educador e o codificador, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen)


7 comentários:

  1. O caminho de Allan Kardec foi muito bem preparado e fundamentado. O que conhecemos hoje como pedagia moderna nasceu ali, nada é por acaso. A forma como o espiritismo veio para aprendermos a interpretar as leis de Deus e os ensinamentos do Cristo é pautada nesse sistema que para nós hoje evolui para fé raciocinada.

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    1. Para nós espíritas, tudo tem uma razão, e vemos claramente isso quando estudamos a história da própria doutrina. Como tudo foi muito bem articulado para que Kardec tivesse as melhores condições para cumprir sua missão.

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  2. Uma Pedagogia ainda entendida como Moderna.. Educativa ao Natural, Adorei está leitura, obrigada !!

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    1. Que bom que está gostando! Fique sempre ligada nas nossas publicações! Toda segunda-feira temos a série Allan Kardec para que possamos entender melhor o caminho trilhado pelo Codificador de nossa doutrina.

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  3. Uma Pedagogia ainda entendida como Moderna.. Educativa ao Natural, Adorei está leitura, obrigada !!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. "Ele relaciona em seis itens aqueles que ele considera mais adequados ao ensino infantil." , contudo só saíram 3 no texto do blog.

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