sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

RESENHANDO: VIAGEM ESPÍRITA EM 1862

Fonte de referência infinita, o codificador não cansou, em sua árdua tarefa, de nos deixar, por escrito, as suas orientações. Além dos cinco livros que formam a base da codificação espírita, Kardec deixou vários outros escritos.
Viagem espírita em 1862 é um livro escrito pelo próprio Kardec com o relato da viagem feita por ele em 1862 na qual teria visitado 20 cidades francesas e participado de 50 reuniões. Por considerar extenso para publicar na revista espírita, Kardec teria preferido fazer um relato sobre a viagem, mas editá-lo em separado no mesmo formato da Revista.
A introdução da publicação em português traz uma explicação, feita pelo tradutor do livro, sobre as várias viagens feitas por Kardec para a divulgação do espiritismo, em especial sobre a terceira viagem, feita em 1862, da qual derivou o livro em questão. O conteúdo existente na introdução nos remete ao século XIX e a todo o esforço de Kardec para a consolidação da doutrina, além de nos deixar com vontade de conhecer ainda mais os caminhos desse homem que dedicou parte de sua vida à divulgação das idéias dos espíritos.
O restante do livro, como não poderia deixar de ser, deixa transparecer as características inequívocas do codificador: seriedade, dedicação e comprometimento.
Kardec começa expondo as impressões que teve durante a sua viagem, numa espécie de introdução que denomina Impressões gerais, na qual afirma que seu objetivo seria o de “resumir as observações (...) sobre a situação em que se encontra a doutrina espírita e levar ao conhecimento geral as orientações que (...) foram possíveis oferecer aos organizadores dos diferentes Centros”. (p.25).
Nessa primeira parte, ele cita as cidades por onde teria passado, afirma o crescimento da doutrina espírita em números de adeptos, além de falar sobre outras questões, tais como a utilização dos efeitos físicos e sua diminuição ao longo do tempo, a atuação do médium, a importância do equilíbrio no grupo espírita, a evangelização espírita, obsessão em médiuns, além de outros assuntos.
   O codificador separa em três partes o discurso pronunciado nas reuniões de Lyon e Bordeaux. Percebe-se pelo conteúdo do discurso uma intenção nítida de fortalecer a confiança dos adeptos no crescimento da doutrina e orientá-los no sentido de que compreendam profundamente que o progresso do espiritismo está intimamente relacionado com a postura adotada pelos espíritas nas suas vidas particulares e na forma como irão conduzir os grupos espíritas.  O codificador fala em especial da caridade, analisando-a, interpretando-a e aplicando-a a vários exemplos no intuito de demonstrar mais claramente sua importância na modificação íntima do espírita.
Na quarta parte do livro, Kardec nos traz as respostas dadas às perguntas sugeridas por participantes das reuniões nas quais esteve. Os assuntos são diversos, no entanto, incrivelmente atuais.  No final, Kardec transcreve um projeto de regulamento para a formação de grupos ou sociedades espíritas no intuito de orientar a formação de novos grupos. 
O livro de Kardec surpreende pela sua atualidade. Apesar de ser possível verificar em seu discurso alguns fatos típicos da época, os problemas e as soluções apresentados ainda refletem as necessidades e os questionamentos atuais de qualquer Casa Espírita.
Ainda mais precioso do que as orientações quanto à doutrina, o livro nos apresenta uma interpretação profunda, racional e incrivelmente transformadora de questões atualmente tão discutidas, entre elas o egoísmo e a caridade.
É impossível ler este livro e não ficar com uma frase martelando na mente: “como eu não pensei nisso antes?”.
Kardec mostra-se em seu discurso um espírita apaixonado, dedicado e, principalmente, praticante fervoroso dos ensinamentos dos espíritos. Através de suas palavras nossa responsabilidade como espíritas cresce, mas, apesar disso, não pesa. Ao contrário, tudo se torna mais simples e mais claro.
Viagem espírita em 1862 é uma excelente pedida para todos aqueles que vêem no espiritismo uma porta para o progresso humano e para a paz interior e que preferem buscar nas palavras do codificador as orientações de que necessita.
O tradutor Wallace Leal Valentim Rodrigues nasceu na cidade de Divisa no Espírito Santo em 1924. Escritor e autor teatral, dedicou-se também ao espiritismo como redator-chefe da Revista Internacional de Espiritismo, além de ter traduzido, organizado e escrito dezenas de livros espíritas.  

(KARDEC, Allan. Viagem espírita em 1862. 3ª Ed. São Paulo: O Clarim, 2000)

Resenha elaborada por Alessandra Mayhé

Um comentário:

  1. Excelente resenha, mas estou aqui me perguntando onde fica Divisa? Será que mudou de nome atualmente?

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