As atividades do codificador
aumentavam e, com elas, os conflitos internos na Sociedade Espírita também se
intensificavam, a ponto de Kardec pensar em deixar a direção da Sociedade. No
entanto, a espiritualidade foi bastante direta na sua orientação:
“Quando
um mal existe, ele não se cura sem crise; assim é do pequeno ao grande; no
indivíduo como nas sociedades; na sociedade como nos povos; nos povos como o é
na humanidade. Nossa Sociedade, dizemos, é necessária; quando o deixar de ser
sob a forma atual, ela se transformará como todas as coisas. Quanto a ti, não
podes, não deves retirar-te. Não pretendemos, entretanto, subjugar o teu
livre-arbítrio; apenas dizemos que a tua retirada seria uma falta que um dia
lamentarias, pois entravaria nossos planos.”
A orientação foi bem entendida por
Kardec, que nos deixou como exemplo sua perseverança e confiança nos desígnios
divinos. Zeus Wantuil resume bem a orientação dos espíritos e a atitude digna
de Kardec diante dos obstáculos quando afirma que:
“Vencer
as crises e permanecer nos postos, este o dever dos espíritas responsáveis no
Movimento”.
As obrigações aumentam, o tempo
diminui. Kardec relata que suas forças começam a lhe faltar. Além das
divergências internas no Movimento e do excesso de atividades, Kardec sofre a
pressão dos opositores que não se cansam de tentar enfraquecer a Doutrina
recém-nascida.
“O
espiritismo não se afastará da verdade, e nada terá a temer das opiniões
contraditórias enquanto sua teoria científica e sua doutrina moral forem uma
dedução dos fatos escrupulosa e conscienciosamente observados, sem prejuízos
nem sistemas preconcebidos”.
“Que
os espíritas, pois, não tenham receio: o futuro lhes cabe; que deixem os
adversários se debaterem sob o aspecto da verdade que os ofusca, visto que toda
a denegação é impotente contra a evidência que triunfa, inevitavelmente, pela
força mesma das coisas. É questão de tempo, e neste século o tempo marcha a
passos de gigante sob o impulso do progresso.”
Kardec desencarna enquanto trabalha
em uma nova atividade que visava o estudo das relações entre o magnetismo e o
espiritismo.
Em seu legado, além das obras da
codificação que constituem toda a base filosófica da doutrina espírita,
encontramos subjetivamente inúmeros benefícios advindos de sua capacidade
indiscutível de apreender a intenção da espiritualidade ao lhe oportunizar
tarefa tão árdua. Entre esses benefícios, podemos citar:
- A
criação de uma doutrina baseada no método científico de observação:
“Conduzi-me
com os espíritos, como houvera feito com os homens. Para mim, eles foram, do
menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados. Tais as
disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre. Observar,
comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui.”
- Doutrina
que dispensa a necessidade de um intermediário sendo acessível a todos:
“Não
basta que uma idéia seja grande, bela e generosa, é preciso de tudo que seja
praticável.”
- Doutrina
aberta à aquisição de novas informações:
“A
revelação fez-se assim parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de
intermediários e é dessa maneira que prossegue ainda, pois que nem tudo foi
revelado.”
- Amor
à Doutrina respeitando toda e qualquer outra crença:
“Quanto
às rivalidades, às tentativas para nos suplantar, temos um meio infalível para
não temê-las. Trabalhemos para compreender, para engrandecer a nossa
inteligência e o nosso coração; lutemos com os outros, mas lutemos com a
caridade e a abnegação. Que o amor ao próximo, inscrito sobre a nossa bandeira,
seja a nossa divisa; a procura da verdade, de qualquer parte que venha, o nosso
único objetivo!”.
“O fim do espiritismo é tornar
melhores aqueles que o compreendem. Esforcemo-nos em dar o exemplo e em
demonstrar que, para nós, a doutrina não é letra morta.
Em suma, sejamos dignos dos bons
espíritos, se quisermos que os bons Espíritos nos assistam. O bem é uma
couraça contra qual sempre se despedaçarão as armas da malevolência”. (Kardec).
Referências:
WANTUIL, Zeus; THIESEN, Francisco. Allan
Kardec: Pesquisa bibliográfica e ensaios de interpretação. Vol. II. Rio
de Janeiro: FEB, 1980.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de
Janeiro: FEB.
"Doutrina que dispensa a necessidade de um intermediário sendo acessível a todos."
ResponderExcluirObrigado, Kardec.
Incrivel a luta de Kardec .... obrigado p ter cumprido sua missão!
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