quarta-feira, 1 de março de 2017

Vitória Down

21 de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down. A escolha desta data é uma alusão à Trissomia do cromossomo 21. Ou seja, cromossomo 21 + Trisssomia 21/03. Entendeu?

Mas o que seria a Trissomia do cromossomo 21? Cada uma de nossas células possui, normalmente, 46 cromossomos que são iguais dois a dois. No entanto, pode acontecer de que devido ao que a medicina chama de “acidente genético”, haja a presença de mais um cromossomo 21, fazendo com que a célula possua três cromossomos desse tipo. E
é esse cromossomo a mais que causa a Síndrome de Down.

Nós, espíritas, sabemos que não há acidentes na natureza. Tudo tem um motivo, uma causa. E a causa para que haja o aparecimento de mais um cromossomo em alguns indivíduos está sempre relacionada a sua história passada. Ocorrências de outras encarnações que se refletem no hoje como uma forma de educar aquele ser.

Não nos cabe aqui elencar quais os “delitos” que esses nossos irmãos possam ter causado em outras vidas. Até porque sabemos que se eles carregam marcado no corpo e no períspirito a dívida que tiveram, isso não significa que aqueles que não trazem sinais evidentes destas marcas, também não as tenham na alma, às vezes em graus até maiores, não é mesmo?

Por isso, querido leitor, o nosso objetivo hoje é trazer a público a história de pessoas que lutam diariamente para que essas pessoas com síndrome de down possam ter uma vida de oportunidades, ajudando-os nessa árdua tarefa de se refazerem como indivíduos, como espíritos merecedores de novas oportunidades, e, principalmente, como nossos
irmãos.

A Vida Down

Foi com muita alegria que visitamos a Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Síndrome de Down do Espírito Santo (Vitória Down), e conversamos com sua presidente, Lisley Sophia Nunes Dias e com a coordenadora de projetos Carolina Brancato sobre a realidade atual da pessoa com síndrome de down e os projetos que a associação oferece de amparo e apoio a essas famílias.

Lisley nos conta que a ideia da associação surgiu quando seu filho Renato nasceu. Ela é natural de São Paulo, mas seu filho nasceu no Espírito Santo, e todas as informações que ela conseguia na época eram de associações de outros estados. Ela nos conta que havia pouco acesso a textos e até mesmo os médicos passavam pouca informação. Aliava-se a isso o fato de ser um momento muito difícil para a mãe, pois ao nascer um filho com a síndrome, nem a mãe nem a família sabem como deverão criá-lo, nem o que devem fazer ou esperar dali por diante.

“O momento da notícia é realmente muito traumático. E até hoje os médicos falam muitas coisas que não são reais”, afirma Lisley.

Em 1998, ocorreu em Vitória o primeiro seminário capixaba sobre a síndrome de down, organizado pela APAE daquele município. No final do seminário, uma das mães pediu o microfone para falar e solicitou que as famílias que tivessem interesse em fundar uma associação local que permanecessem no lugar após o encerramento do seminário.
Ficaram em torno de 40 famílias e alguns profissionais. Essas pessoas se juntaram e passaram a se reunir a sede da Associação de Moradores de Jardim da Penha que lhes ofereceu um espaço. No entanto, não havia recursos financeiros e as dificuldades eram muitas. No começo, as pessoas envolvidas queriam que a associação trabalhasse com atendimento, como fonoaudiólogos, fisioterapeutas, mas o grupo não tinha conhecimento e teve receio de fazer esse tipo de atividade. Após alguns meses, o grupo decidiu que iria se tornar uma associação de luta por garantias e direitos.

A Vitória Down é filiada ao Conselho Municipal de Assistência Social e ao Conselho da Criança e Adolescência de Vitória. Além de terem representação no Conselho
Municipal da Pessoa com Deficiência e ser filiada a Federação Brasileira das Associações com Síndrome de Down. No entanto, para que pudessem se filiar a esses conselhos, foi necessário sair da sede da associação de moradores de Jardim da Penha, pois havia a necessidade de alguns documentos que eram exigidos e que não seria possível obter se permanecessem sediados naquele local.

Assim foi necessário encontrar uma outra sede, dessa vez alugada, e que teve que ser paga pelos próprios associados. Para ajudar, eles conseguiram um convênio com a Escelsa (Companhia de Energia do Espírito Santo), que desconta o valor da conta dos associados e passa integralmente para a conta da associação. Essa colaboração, que é solicitada junto à Vitória Down, apesar de importante, ainda tem um valor irrisório, não chegando hoje a R$2 mil mensais. Essas dificuldades fizeram com que, muitas vezes, se pensasse em fechar as portas da associação. A associação conseguiu alugar um pequeno espaço que era utilizado como depósito por um banco comercial local, mas que não oferecia nenhuma infraestrutura.

A equipe, então, se reuniu e conseguiram doações de todo o material necessário para a reforma. Segundo Lisley, foram usadas também emendas parlamentares enviadas, na época, pelo deputado Cláudio Vereza, e que auxiliaram para que a associação pudesse ter condições de se estruturar adequadamente. Há cinco anos, a Vitória Down conseguiu pela primeira vez recurso público do Fundo da Infância e Adolescência de Vitória para desenvolver um projeto para pessoas com síndrome de down. O projeto de tear, tinha objetivo pedagógico, e foi o que permitiu que eles percebessem que havia muitas pessoas com a síndrome paradas em casa, sem atividade, sem amizade, e que estavam adoecendo e em depressão. Isso fez com que a associação passasse a trabalhar projetos voltados também para essas pessoas.

O preconceito
A luta contra o preconceito é constante e o primeiro preconceito é o da família. Se a família não aceita a criança, toda a vida dela estará comprometida. Pois quem fala pelas pessoas com a síndrome durante muitos anos é a família. Lisley nos conta que há também o preconceito na classe médica, que em alguns casos chega a piorar a situação psicológica da família apontando a mãe como responsável pela condição do filho. Outros inclusive desestimulam as famílias dizendo que a criança não irá se desenvolver.

O preconceito também existe nas escolas, principalmente advindo dos pais das outras crianças. Lisley relata que em uma determinada escola, foi necessário que ela levasse uma profissional para dar palestras para os outros pais explicando que a presença de seu filho Renato na sala de aula não atrapalharia o desenvolvimento das demais crianças.

Ela afirma que o preconceito na sociedade, na maioria das vezes, é velado. Inclusive através do que ela chama de “preconceito da superproteção”, que ocorre quando as famílias não aceitam a criança e a superprotegem inibindo o contato dela com o mundo.

Com relação à inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, Lisley nos conta que, apesar de no começo gerar certa dúvida nas pessoas de como tratar o colega com síndrome de down, há pesquisas que indicam que todos os índices apontam para uma melhora no ambiente de trabalho quando há uma pessoa com a síndrome de down na equipe. “No geral, as pessoas acabam convivendo melhor umas com as outras. Eles trazem alguns sentimentos pra equipe que são sempre muito bem vistos”.

Ela entende como natural essa estranheza inicial, pois não tivemos na nossa infância e juventude uma convivência direta com as pessoas com síndrome. Salienta que se vivêssemos realmente em uma sociedade inclusiva, isso não seria um choque e essa questão já estaria desmistificada. “Este é o motivo da importância de se manter a educação inclusiva no Brasil, mesmo que ainda num nível ruim, mas que, mesmo assim, é um inicio para que haja uma maior integração do deficiente na sociedade”, afirma Lisley.

Dever dos espíritas
Fora da caridade não há salvação! Essa máxima tão propagada pela doutrina espírita deve ser o nosso estandarte. O trabalho realizado por essas mães, que se organizaram para ajudar outras famílias, nos comprova essa verdade universal. Nós, da Revista Espírita Joseph Gleber, nos unimos, incentivamos e divulgamos causas como essa, que visam resgatar e auxiliar nossos irmãos que trazem para esta encarnação a dificuldade de não poderem, sozinhos, lidar com a própria realidade que se impuseram. A ajuda de todos nós, cristãos, é uma obrigação moral da qual não podemos nos furtar.

Você pode obter mais informações sobre a Vitória Down pelo Facebook na página @vitoria.down ou através do telefone (27)3314-1174.

Faça a sua parte! Divulgue! Ajude! Se puder, seja um colaborador! Vamos fazer desse mundo, um lugar melhor para todos nós!

(Por Alessandra Mayhé)


Não deixe de assistir em nosso canal no YouTube a entrevista exclusiva que Renato Nunes Dias, filho da presidente Lisley Sophia, nos concedeu, mostrando-nos as dependências da Vitória Down e contando-nos sobre sua vida.


Revista Joseph Gleber - Ano 1 - Edição 3 -  Março 2017

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