(Por Alessandra Mayhé)
O
estudo é um dos pilares da doutrina espírita. Sem conhecimento, o indivíduo se
torna somente mais um reprodutor de frases feitas, dogmas, interpretações
particulares e práticas errôneas.
Se
o espiritismo estimulasse o “deixa como está para ver como fica” ou a simples
aceitação cega dos seus postulados, provavelmente, os nossos psicógrafos ainda
escreveriam utilizando o auxílio da “cesta de bico” (ver Livro dos Médiuns).
A
doutrina espírita foi codificada por Allan Kardec, pseudônimo do professor
Rivail, conhecido por ser um homem de ciência e que não se deixava impressionar
por fatos cuja lógica não pudesse ser explicada cientificamente. Essa sua
postura veio ao encontro da necessidade dos espíritos que precisavam passar os
ensinamentos, mas sem que houvesse sobre eles uma aura de misticismo ou ficção
provinda de mentes imaginativas e férteis.
Atualmente,
a doutrina conta com inúmeros livros que se intitulam espíritas, alguns com
conteúdo realmente coerente com a doutrina codificada por Kardec. No entanto,
há aqueles que em seu bojo trazem conceitos inseridos de outras filosofias (às
vezes, pensamentos oriundos somente daquele espírito comunicante ou do médium
psicógrafo) e nem sempre de forma tão explícita, o que pode levar a confusões
ou más intepretações da doutrina espírita.
Mas,
então, como perceber essas sutilezas? Como adquirir conhecimento seguro em meio
a tanta informação?
A
resposta é muito simples: estudo!
Estudar
a doutrina espírita não implica somente em ler livros espíritas, mas sim em
analisá-los em sua profundidade, na busca do seu sentido real. Esse estudo deve
iniciar-se impreterivelmente pelas
obras básicas da doutrina, pois são a fonte mais segura de informação que ainda
temos.
O
estudo é requisito constante exigido daquele que deseja viver de acordo com os
ensinamentos espíritas, pois é somente através dele que conseguimos entender o
mecanismo de nossas vidas e de tudo o que nos cerca. Dessa forma, compreendendo
o que nos acontece, ficamos naturalmente mais habilitados para tomar as
decisões mais acertadas e agir com maior segurança, seja nas atividades
espíritas ou nas nossas vidas pessoais.
E
como deve ser esse estudo? Posso estudar sozinho? Ou seria melhor estudar
sempre em grupo na casa espírita?
Nem
só uma coisa, nem só outra. Para entendermos melhor essa questão é preciso que
entendamos um pouco sobre o conhecimento.
De
forma fácil de ser compreendida, podemos dizer que “conhecer” é transformar uma
informação em algo que possa ser útil.
Vamos
dar um exemplo bem simples: todos nós temos a informação de que o tomate é um
fruto, correto? No entanto, por que não colocamos o tomate na salada de frutas?
Porque nós validamos a informação dando a ela sentido, analisamos seus aspectos
e chegamos à conclusão de que o tomate não serve para ser usado em uma salada
de frutas. Isto é conhecimento!
Mas
existem dois tipos de conhecimento:
- · Conhecimento tácito: aquele que nós adquirimos pela nossa experiência e vivência pessoal, pela nossa cultura, pela forma como assimilamos e processamos as informações;
- Conhecimento explícito: este é a tradução do conhecimento tácito de uma forma a que todos possam ter acesso, seja através de manuais, livros, revistas etc.
Voltando
à nossa questão sobre estudar em grupo ou sozinho, percebemos que quando
estudamos sozinhos estamos entrando em contato com o conhecimento explícito que
alguém codificou para nós. No entanto, somente isso não é suficiente. A troca
de experiências, de informações, o contato social que ocorre através dos
estudos em grupo é o que nos propicia entrar em contato com o conhecimento
tácito de outras pessoas. Nosso cérebro cruza as informações dos conhecimentos
obtidos através dos livros com aqueles que provêm do contato social e tudo isso
é “digerido”, analisado e resignificado em nossa mente.
Ler,
assistir palestras, frequentar grupos de estudos, tudo isso é necessário para
que nosso cérebro tenha informações suficientes para analisar e assimilar os
conteúdos propostos.
Aquele
que somente lê, restringe sua compreensão daquilo que leu ao seu conhecimento
anterior, portanto se o assunto for relacionado a algo com o qual ele nunca
teve contato, sua compreensão será dificultada, haja vista que ele tem um
conteúdo mental prévio muito pobre para fazer as conexões necessárias para o
entendimento.
Aquele
que somente assiste palestras (presencial ou virtualmente), assimila unicamente
as informações superficiais e, muitas vezes, baseadas em pontos de vistas
pessoais, sem que ele tenha em seu arcabouço mental o conteúdo técnico
necessário para confrontar as informações e fazer a devida análise daquilo que
ouve.
Quanto
ao que somente participa de grupos de estudos, mesmo tendo contato com a teoria
escrita (conhecimento explícito) e com as análises dos colegas (conhecimento
tácito), este permanece ainda na superfície do conhecimento por não se
aprofundar posteriormente nas leituras do conteúdo estudado procurando mais
material para reflexão e aprofundamento do assunto, fixando muito pouco do que
foi visto.
Portanto,
se você tem a intenção de ser um trabalhador espírita ou de simplesmente
tornar-se um espírita consciente, não poderá furtar-se à necessidade de aliar
os estudos particulares com o estudo em grupo. Somos indivíduos e, portanto,
temos plena capacidade de procurar obter e produzir conhecimento por nós
mesmos. Mas somos também seres sociais porque necessitamos aprender uns com os
outros, como nos ensinam os espíritos em O Livro dos Espíritos (ver Lei de Sociedade).
Respondendo
à questão levantada no título de nosso artigo, se você quer adquirir
conhecimento na doutrina espírita, leia, participe de palestras, de grupos de estudos
e, principalmente, trabalhe com afinco e amor, transformando todo o
conhecimento obtido em ação em favor do próximo e de nós mesmos, fixando nos
nossos hábitos as teorias que habitam em nossas mentes. Somente assim obteremos
o conhecimento de que tanto necessitamos para sermos pessoas melhores e cumprir
nossa missão evolutiva na Terra.
Boa reflexão sobre nossa relação com o conhecimento e vivência da Doutrina Espírita!
ResponderExcluirSim, o estudo a fim de adquirir conhecimento é importante. No entanto existem analfabetos que ensinam compaixão como nenhuma escola saberia ensinar e existem ateus que sabem de Deus muito mais do que religiosos ilustres que nem sempre praticam o que pregam. Na essência, se formos bons, nenhuma religião, nenhum estudo ou conhecimento conseguirá nos tornar melhores, apesar de cultos. Assim como, se formos maus, ainda que inseridos em grupos religiosos, nada do que enunciarmos sobre versículos e dogmas, nos fará bons. Mesmo porque, em nome de Deus, ao longo dos milênios, se matou e se morre ainda nas guerras fratricidas que mancharam de sangue as cruzes, amuletos e ostensórios porque nos templos muitas vezes faltou a caridade que se pregava. O amor enaltecido no púlpito, que se deveria estender pelos degraus da miséria, não desceu até os miseráveis para assistí-los e acolhe-los em nome de Deus. Religião do futuro não necessariamente será essa ou aquela ou nenhuma, mas com certeza, não nos livraremos da responsabilidade de sermos os irmãos dos outros, que não temos sido, enquanto praticamos a nossa, hoje.
ResponderExcluir