quarta-feira, 26 de abril de 2017

SÉRIE CHICO XAVIER: CHICO, O COMILÃO!


...o rapaz de Pedro Leopoldo ficava famoso e virava atração principal em sessões espíritas de outras cidades. Em 1936, enquanto Boris Karloff provocava calafrios no filme “O Morto Ambulante”, ele roubava a cena na Sociedade Metapsíquica de São Paulo. Na noite de 29 de março, colocou no papel uma mensagem assinada por Emmanuel, em inglês, e escrita de trás para a frente, em papel timbrado da entidade, previamente rubricado com duas assinaturas. A platéia só faltou aplaudir de pé e pedir bis. Após a exibição, foi convidado para um jantar na casa de uma socialite espírita.

A dona da casa tinha ímpetos de colocar o "embaixador" dos mortos numa de suas baixelas de prata. 

Diante dos talheres reluzentes e dos figurinos de gala, o rapaz enrubescia, engasgava. Nunca tinha visto tanta comida junta. Nem sabia por onde começar. Estava paralisado.

De repente, saltou em direção à porta da cozinha e arrancou das mãos de uma jovem uma travessa repleta de arroz. A anfitriã chegou a tempo de evitar o pior. O rapaz estava contrariado.

“A coitadinha é tão frágil. E nós aqui, à toa, vendo-a fazer tudo sozinha”.

Foi difícil convencer o matuto de que a coitada era empregada da casa e recebia um salário por aquele serviço. Só após certa disputa pela posse da bandeja, Chico se conformou e foi à mesa se servir.

A dona da casa fez questão de acompanhar o tour do pobrezinho em torno do bufê.

“Isto é gostoso, meu filho. Coma, coma, coma um pouco mais”.

Com medo de fazer desfeita, o coitado engolia a miscelânea de carnes, massas e saladas. Sempre que levava à boca os últimos vestígios de comida, escutava a voz estridente ao seu lado:

“- Coma um pouco mais. O que é isso? Tão pouco...”

O prato se esvaziava e logo se enchia de novo. Chico sorria, agradecia, afrouxava o cinto, desabotoava o colarinho, respirava fundo. Quando chegou a sobremesa, sentiu vontade de chorar. A anfitriã cobriu seu prato de doces. Ele comeu. Ao sair, amparado por amigos, escutou o comentário sussurrado pela dona da casa a uma amiga:

“Esse Chico é formidável, mas, puxa, como come...”

O aprendizado foi indigesto.

Chico engoliria muito sapo até aprender a dizer "não".

(SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2ª Ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003. p. 67-68)


3 comentários:

  1. kkkkkkkkkk
    Muito bom, tadinho do Chico. Mas essas é uma das muitas situações que passamos até aprender a dizer não.

    ResponderExcluir
  2. Às vezes é preciso dizer não, mas Chico não gostava de magoar as pessoas​.

    ResponderExcluir
  3. O mais difícil é dizer o não.

    ResponderExcluir