segunda-feira, 10 de abril de 2017

SÉRIE CHICO XAVIER - LAVANDO PRIVADA



Emmanuel era implacável. Numa noite, ou melhor, já à 1h da madrugada, Chico voltava exausto de mais uma sessão no Centro Luiz Gonzaga quando abriu aporta de casa e deu de cara com uma cena nada agradável. Os dois gatos tinham sofrido uma indigestão. A sala parecia um chiqueiro. O mau cheiro estava insuportável. Chico sacudiu os ombros. Pediria a uma das irmãs que fizesse a limpeza na manhã seguinte.

Quando estava a caminho do quarto, escutou a voz do guia:

- Você, que vem de uma reunião espírita, está fugindo da sua obrigação? Está exigindo que uma pobre menina, cansada de trabalhar nas panelas e no tanque para que não lhe falte comida nem roupa lavada, limpe esta sujeira? Você vai pegar um pano, vai trazer água, sabão e vamos lavar.

Chico acatou. Só ele lavou. Emmanuel, de braços cruzados, se limitou a "passar sabão" no coitado:

- No espiritismo, a pessoa tem que começar estudando nos grandes livros e também lavando as privadas, trabalhando, ajudando os que estão com fome, lavando as feridas de nossos irmãos. Se não tivermos coragem de ajudar na limpeza de um banheiro, de uma privada, nós estaremos estudando os grandes livros da nossa doutrina em vão.

Durante toda a sua vida, ele conservaria o hábito de varrer seu próprio quarto e limpar seu banheiro.

De vez em quando, Chico desanimava. Numa tarde, ele voltava da Fazenda Modelo, a pé e cabisbaixo, rumo a sua casa. Imaginava quando toda aquela trabalheira, cercada de desconfiança, iria terminar. Emmanuel apareceu com mais uma lição. Apontou um lavrador, que capinava, e usou uma metáfora:

- Reparou? A enxada, guiada pelo cultivador, apenas procura servir. Não pergunta se o terreno é seco ou pantanoso, se vai tocar o lodo ou ferir-se entre as pedras. Nós somos a enxada na mão de Jesus. E a enxada que foge ao trabalho cai na tragédia da ferrugem.

(SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2ª Ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003. p. 86-87)

2 comentários:

  1. Uma boa reflexão trazida por Chico e Emmanuel. O trabalho braçal, o colocar a mão na massa, nos ensina muito e é essencial para nós.

    Os livros são importantes demais, mas capinar, lavar o chão e etc em prol de uma causa ou alguém também são ferramentas fantásticas.

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  2. "A enxada que foge ao trabalho cai na tragédia da ferrugem". Bom demais.

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