Chico
sempre se sentiu sob vigilância constante. Um dia, na Fazenda Modelo, arrancou
uma laranja do pé e ouviu a censura:
- "Ladrão".
Emmanuel
poderia pegá-lo em flagrante a qualquer momento. E entrava em cena contrariado
quando seu protegido usava palavras inconvenientes, falava em tom áspero ou
dava sinais de agressividade e impaciência. Com o tempo, Chico passou a apostar
na frase "o mal é o que sai da boca do homem" e começou a construir
um discurso sob medida. Logo ele se tornou um mestre em eufemismos.
No seu
mundo, não havia prostitutas, mas "irmãs vinculadas ao comércio das forças
sexuais". Os presos eram "educandos", os empregados eram
"auxiliares", os pobres eram "os mais necessitados", os
mongolóides eram "nossos irmãos com sofrimento mental", os
adversários eram "nossos amigos estimulantes" e os maus eram os
"ainda não bons". Ninguém fazia anos e sim "janeiros" ou
"primaveras". Os filhos de mães solteiras deveriam ser encarados como
filhos de pais ausentes. A nota de vinte cruzeiros, entregue com freqüência aos
pobres, ganharia um apelido inspirado em sua cor: "laranjada".
O
cuidado com as palavras não era mera formalidade nem prova de educação.
Tinha
fins preventivos, quase terapêuticos. O uso de expressões agressivas era perigoso,
arriscado. Os maus pensamentos também. Era Kardec quem ensinava: "Os maus pensamentos
corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável..."
(SOUTO MAIOR,
Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2ª Ed. São Paulo: Planeta do Brasil,
2003. p. 108)
Excelente exercício proposto.
ResponderExcluirEstas palavras são de grande aprendizado.
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