quarta-feira, 10 de maio de 2017

SÉRIE CHICO XAVIER: NA PENITENCIÁRIA


Para combater a doença, Chico Xavier seguia a receita de Emmanuel: caridade.

Em 1978, fiel à máxima "aliviai e sereis aliviado", ele foi buscar forças na Penitenciária de São Paulo. A diretoria do presídio pediu aos presos interessados em ouvir a prece do espírita que se inscrevessem. Resultado: 542 detentos se apresentaram.

Na época, muitos deles liam o livro 165 de Chico, “Falou e Disse”.

Durante a palestra, um dos presidiários reclamou de ser tratado como um número. Chico tratou de buscar um consolo:

- Meu filho, quem de nós não é tratado por número? É número de telefone, de carro, de casa, de CEO, de CIC. Nós estamos com mais números que você. Só que agora estamos na cela ambulante e vocês estão na fixa.

Após a palestra, Chico surpreendeu o diretor do presídio com uma notícia:

- Quero sair daqui, mas, antes, desejo abraçar e beijar a todos.

O diretor arregalou os olhos e quase se benzeu:

- Deus me livre. Não, senhor. Você não vai abraçar nem beijar ninguém.

Chico insistiu:

- Não senhor, doutor. Eu não viria aqui fazer prece para depois me distanciar dos nossos irmãos. Não está certo.

O diretor foi dramático:

- Neste salão, outro dia, mataram um guarda de 23 anos. Afiaram a colher até ela virar punhal. Aqui há criminosos com sentenças de duzentos a trezentos anos. Eles podem te matar.

- Pouco importa, vim aqui para o encontro e o senhor não me permite abraçar?

O diretor se conformou com a ideia, mas tratou de organizar uma estratégia de guerra. Não podia correr o risco de virar notícia de jornal como um dos responsáveis pela morte de um dos líderes religiosos mais requisitados do país. Chico ouviu as instruções: teria de ficar atrás da mesa, cada encontro deveria ser rápido, dezoito baionetas estariam apontadas para o grupo.

Para desespero do diretor, o espírita ficou na frente da mesa. Ele abraçava e beijava cada preso. Muitos contavam segredos ou diziam algumas palavras. Tudo ia muito bem até a chegada de um senhor de quase cinquenta anos. Ele se aproximou e ficou estático diante do médium. Não estendeu a mão, não aproximou o rosto para o beijo, não abriu a boca.

Chico perguntou:

- O senhor permite que eu o abrace?

- Perfeitamente.

Após abraçar o corpo rígido, ele arriscou:

- O senhor deixa que eu o beije?

- Pode beijar.

Chico o beijou de um lado, do outro, duas vezes cada face.

Lágrimas escorreram dos olhos do preso. Antes de virar as costas, o detento agradeceu:

- Muito obrigado.


(SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2ª Ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003. p. 223-224)

6 comentários:

  1. Ninguém resiste ao amor de Jesus. Interessante esse trabalho com presos. Uma vez ouvi uma palestra do Fiorido (do NEIM) muito legal, na qual ele fala mais ou menos isso que o Chico falou: a diferença entre eles (presos) e nós (soltos) está no fato de ainda não termos sido presos por nossos crimes.

    "Meu filho, quem de nós não é tratado por número? É número de telefone, de carro, de casa, de CEO, de CIC. Nós estamos com mais números que você. Só que agora estamos na cela ambulante e vocês estão na fixa"

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  2. Para refletirmos... Realmente todos temos vários números. Não somos melhores que ninguém, mesmo!

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  3. Para refletirmos... Realmente todos temos vários números. Não somos melhores que ninguém, mesmo!

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  4. Para refletirmos... Realmente todos temos vários números. Não somos melhores que ninguém, mesmo!

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  5. Estamos presos dentro de nós mesmos, o exterior é apenas o reflexo interior..a oração, o auxílio Duplo ( corpóreo e Universal ) ..nos auxiliarão em uníssono!!

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