Em
02 de abril comemora-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data
decretada pela ONU (Organização das Nações Unidas), desde 2008. A equipe da
revista Joseph Gleber buscou fontes e informações para produzir uma matéria
sobre o assunto e o retorno foi tão positivo que não foi possível publicá-la em
abril. Entretanto, o que seria uma matéria tornou-se uma série de entrevistas.
A partir desta edição, o público vai poder conferir a visão de especialistas,
pais de autistas e autistas sobre o assunto.
A
psicóloga Maria Eugênia Caldeira nos esclarece tecnicamente sobre o autismo. No
mês de agosto, Cristiano Camargo, que tem Síndrome de Asperger, nos fala sobre
o assunto a partir de sua vivência.
"O autista tem um mundo muito particular. Para ele o nosso
mundo é desorganizado. Tentar encontrar a porta de entrada para o mundo dele é
o deveríamos fazer, mas somos limitados e isso não é uma tarefa fácil".
1. O que é autismo?
O
autismo, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais DSM-5, é
considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por déficits
significativos e persistentes na comunicação social (incluindo o contato
visual, linguagem verbal e não verbal), interação social, em vários contextos,
além de comportamentos motores repetitivos e estereotipados (pular, balançar o
corpo ou as mãos, bater palmas, entre outros) .
2. Existe algum sintoma que
caracterize o autismo?
A
criança autista apresenta muito cedo os comportamentos que caracterizam o
transtorno. Por exemplo, o contato visual é precário, o sorriso e as
brincadeiras da mãe ou adultos não chamam a atenção, o nível de concentração em
determinados objetos é grande, a rotina é uma necessidade, pois sair dela gera
desconforto e agitação, parece não estar ouvindo os chamados, a linguagem,
quando desenvolvida, é ecolálica (repete a fala que ouve ou só o final dela).
3. Existe idade exata para a
manifestação do autismo?
O
diagnóstico do autismo é realizado a partir de observações clínicas (do
comportamento da criança), entrevistas com a família, utilizando escalas que
apontam se determinados comportamentos existem ou não e, se existem, qual o
nível de persistência. Contribui muito com esse levantamento a análise de
vídeos de família, pois facilitam a visualização de comportamentos da criança
em ambientes festivos, nos quais ela precisa interagir. Os sintomas costumam estar
presentes antes dos três anos, sendo possível iniciar um diagnóstico a partir
dos 18 meses de vida.
4. Há como fazer um
diagnóstico precoce?
Diagnosticar
o autismo não é uma tarefa fácil, pois pode ser confundido com outros
transtornos que possuem características semelhantes. Há que se pensar também
que o mesmo pode se desenvolver apresentando comorbidades como o TDAH
(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), TOC (Transtorno Obsessivo
Compulsivo), entre outros.
5. O que explica o
surgimento do autismo?
Não
existe uma etiologia para explicar o surgimento do autismo. Os vários estudos
apontam para fatores genéticos, biológicos e ambientais, descartando o que se
afirmava anteriormente que a relação da mãe com a criança era responsável pelo
desenvolvimento do transtorno. Alegava-se que as mães de crianças autistas eram
frias, pouco afetivas (mães frigorífico
- como eram chamadas). Essa alegação, com certeza, causou muitos transtornos
familiares, pessoais e sociais para as mulheres que tinham filhos autistas.
6. Quais os níveis de
gravidade do autismo?
O
nível de gravidade para transtorno do espectro autista apresentado no DSM-5 é:
nível 3 (exigindo apoio muito substancial); nível 2 (exigindo apoio
substancial) e nível 1 (exigindo apoio). Essa classificação revela o grau de
funcionalidade ou não da criança autista. O Asperger, por exemplo, dentro do
espectro tem maior funcionalidade do que outros autistas. O nível de autonomia
e desenvolvimento intelectual é que vai dar o sentido de funcionalidade ou não
para o autista.
7.O que é espectro do
autismo
O
espectro é uma forma de demonstrar que existem variáveis na formação dos
sintomas e, por isso, não é possível classificar a todos dentro de um mesmo
padrão. As características principais são comuns, mas existem nuances distintas
para os casos de autismo.
8. Como o autista
reage ao contato físico?
O
autista apresenta uma hipersensibilidade que faz com que ele tenha rejeição por
alguns comportamentos ou situações: o toque tão desejado pela criança pode
causar dor, um barulho insignificante para nós pode causar incomodo e resultar
em reações imprevisíveis.
9. Como o autista
reage à expressão de sentimentos?
O
autista não consegue fazer uma leitura do social como nós. Não compreendem
alguns comandos, não entendem ironias, piadas, enfim. O comportamento
repetitivo faz parte das características do autismo, o que ocorre é que quando
alguma coisa o incomoda pode desencadear um processo ansiogênico que o leva a
intensificar esses comportamentos.
10. Como é a inclusão
nas escolas e no trabalho?
Atualmente
a inclusão é obrigatória. O que ocorre é a necessidade de um professor com
conhecimento de educação especial. E isso, nas nossas escolas não é comum.
Portanto, vejo uma precariedade na proposta da inclusão. Quanto ao trabalho,
acredito que só será possível para autistas com alta funcionalidade, pois os de
baixa funcionalidade necessitam de apoio ilimitado.
11. Como o autista vê
o mundo?
O
autista tem um mundo muito particular. Para ele o nosso mundo é desorganizado.
Tentar encontrar a porta de entrada para o mundo dele é o deveríamos fazer, mas
somos limitados e isso não é uma tarefa fácil.
12. Em uma reportagem
especial sobre o autismo no programa Fantástico, um entrevistado autista
relatou que não consumia Glutén, pois havia percebido que ele ficava mais
agitado após ter consumido. Há pesquisas
que tratam do aspecto alimentar?
Volto
na hipersensibilidade. Alguns estudos exploraram esse aspecto do alimento.
Tenho uma amiga que mudou alimentação do filho, seguindo essa nova tendência e
percebeu melhora. Mas não há garantia de que todos eles sejam beneficiados por
uma dieta sem glúten.
13. O autista pode
desenvolver outros transtornos?
O
ocorre é o que chamamos de comorbidades, ou seja, além do autismo há também
outros transtornos ou doenças relacionadas. Exemplo autismo e TDAH; autismo e
TOC.
14. A senhora conhece
algum medicamente ou tratamento com a finalidade de cura para o autismo?
Apesar
de alguns estudos serem realizados não há comprovação de cura para o autismo.
Transtorno
do Espectro Autista
Eugenia
Maria Caldeira
Psicóloga
- CRP 16/4128
(Por Stéphane Figueiredo)
Revista
Joseph Gleber - Ano 1 - Edição 6 - Junho/Julho 2017
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